Creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais simpático, de mais viril e de mais perfeito do que o Cristo; e eu digo a mim mesmo, com um amor cioso, que não existe e não pode existir. Mais do que isto: se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se acha n'Ele, prefiro ficar com o Cristo a ficar com a verdade. (Dostoievski)

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18 de fev. de 2013

Nos seus braços



Só os tolos acreditam que o relacionamento com Deus é sem graça. Alguns imaginam o céu como um lugar tedioso. Não sei como é o céu. Mas desde que conheci o amor de Deus, por meio de Jesus, vivo dias incríveis. Nunca, nem antes nem depois, estive em um relacionamento tão intenso e vivo. Quando me converti, tinha 21 anos, e meu sentimento era de perplexidade diante da novidade de sentir em mim uma força viva, ainda que invisível. Dessa força vinha paz, entusiasmo, alegria, amor. A cada dia, Deus se mostrava de modo diferente – e, no entanto, pacificamente constante. Meus sentimentos eram também confusos, tinha medo de abrir mão de prazeres, rotinas, hábitos nos quais não via mal, ainda que soubesse serem errados. Tinha medo de deixar de ser “eu mesma”, de me tornar triste, um ser de pensamento embotado e cinza. Via cristãos de todos os matizes: conformados, cínicos, aguerridos, amorosos, misericordiosos, julgadores, acusadores... Não sabia direito em que padrão de comportamento eu me encaixaria. Não achava que as pessoas da igreja eram melhores que muitas “do mundo” que eu já havia conhecido. A única coisa que eu sabia é que esse Deus era bom, era muito bom, e com Ele eu me sentia livre para chorar, para falar, para pedir, para reclamar. Pela primeira vez na minha vida, eu tinha alguém em quem eu podia confiar completamente. Eu sabia que não era digna de nada, e ainda assim eu pedia. O mais interessante é que Ele ouvia, e assim eu via, com frequência, pedidos feitos em oração se tornarem realidade. Era incrível. Lia a Bíblia e aquelas afirmações, ideias e conceitos pareciam saltar do papel para a minha vida. Nunca achei a leitura da Bíblia chata. Achava desafiador entender textos mais herméticos. Achava incrível que aquelas palavras, escritas há tantos séculos, pudessem se tornar verdade na minha vida. Eu, uma entre mais de seis bilhões.

Mas as coisas mudavam. O ano seguinte à minha conversão e ao meu batismo foi mais intenso. Comecei a ver mudanças em minhas escolhas, concepções, certezas. Comecei a entender os mil quinhentos e doze porquês antes inexplicáveis em relação à prática religiosa. A vida mudava, eu mudava, meu relacionamento com Deus mudava: tornava-se mais intenso, mais estreito. Anos depois de minha conversão, olhava tudo o que Ele havia feito em mim e não acreditava. Era muita coisa. Então olhava para mim e via o quanto havia a ser feito. E quanto mais Deus fazia, mais eu via o quanto precisava que Ele fizesse, sempre, coisas novas em mim. Percebi então que a vida com Deus assemelha-se mais a um rio que a uma lagoa. A relação com Deus é dinâmica, é cheia de movimento. Nunca é tediosa. Nunca é monótona. A Bíblia que eu relia adquiria sentidos diferentes. Capítulos que sabia praticamente de cor subitamente ganhavam uma dimensão completamente inusitada. Sempre foi incrível.

Deus acompanhou fases diferentes, idades diferentes, humores, estados de alma e de conhecimento vários. Como um construtor paciente, compreendeu fraquezas, falhas, erros. Consertou muita coisa, e só não fez tudo de uma vez, quando o conheci, porque eu teria tido um ataque de nervos instantâneo. Deus sabe o que posso suportar, e age respeitando meu ritmo e meu passo. Achava que Deus um dia ia perder a paciência comigo, cansar-se de me perdoar, pedir “um tempo” no nosso relacionamento... Achava que Deus ia me deixar, que Ele ia me abandonar ou me rejeitar em algum momento. Para minha grata e completa surpresa, Deus  sempre estava comigo, bem perto, ao lado, em volta, aqui. Isso era absurdamente maravilhoso, para mim. Deus era diferente de todo e qualquer ser humano que eu já havia conhecido. A cada constatação de que Ele estava lá, estava comigo, enfrentando todas as dificuldades do meu lado, eu ficava mais e mais grata, eu o amava com mais intensidade. Não só Ele me moldava como essa nova forma que eu adquiria me tornava capaz de amá-lo mais e mais, apaixonadamente.

Há 20 anos tenho vivido esse amor com Deus. Tenho descoberto mais a seu respeito, e tenho aprendido que Ele é de fato perfeito. Não há defeitos, não há oscilações, não há medo. Deus é nobre por inteiro. Ele se tornou, para mim, mais real que minha mão, que os meus pés. Mais real que meu nariz. Não preciso fingir ser quem eu não sou para me mostrar piedosa, caridosa ou melhor do que de fato sou. Deus me conhece. Sabe como sou. Sabe exatamente o que penso e sinto. E não me aponta o dedo na hora do erro. Instrui, acolhe, ensina. Perdoa, edifica, trata. Cura. Ama. Jamais abandona, jamais desiste, jamais esmorece. É apaixonado, cuidadoso, cheio de zelo. E imaginem, faz só 20 anos que vivo essa história de amor. Fico pensando nos próximos 20 anos. Na eternidade. 

16 de dez. de 2009

convite: lançamento de livro :)))


 Convite
               Lançamento do livro  Quand les mots parlent, au Maranhão... on écrit! / Quando as palavras falam, no Maranhão... escreve-se!
               Textos bilingues (francês/português)
               Autores: Charles Simões, Eva Maria Nunes Chatel, Fernanda Costa, Maria Elza Bello, Mayalu Felix, Rossana Ingrid Jansen e Teresinha Rocha Braga.
Data: 21/12/09                       Horário: 17h30
Local: Auditório Ribamar Carvalho - Área de Vivência - UFMA
Preço do exemplar: R$ 20,00

Venez nombreux!

8 de fev. de 2009

do fundo da alma

Vou postar aqui dois textos que me chamaram a atenção: o primeiro, do Vitor Ferolla, econtrei no Blog Confeitaria Cristã e também no Blog do Vitor Ferolla, Amando ao Próximo. É um texto que vai contra a maré de cristãos melancólicos e pensatiiiiiiiiiivos (ui!) que afirmam que a Igreja é o grande mal do protestantismo/evangelicalismo, e que um cristão sem igreja é "verdadeiramente livre". Vejam, não falo dos que questionam a instituição "Igreja", coisa que eu também faço, mas dos que de modo traiçoeiro a atacam sem dó, mesmo tendo, eles mesmos, suas próprias igrejas. Muitos afirmam que a Igreja é um mal em si, e a combatem vigorosamente em seus textos e mansagens.  Os cristãos que amam a Igreja quase pedem desculpas por estar dentro dela, dado o nível de rejeição da instituição, hoje em dia. Esse texto do Vitor Ferolla rema contra a maré.

O segundo texto é de uma jovem chamada Alessandra Almeida, de Jaraguá do Sul, Santa Catarina. Ela tem um Blog cheio de poesias doces e ternas, transbordantes de amor, que refletem o que ela pensa e sente. Esta poesia dela me chamou a atenção por ser cheia de saudade mas, ao mesmo tempo, de esperança e gratidão. Eu gostei muito. E, coincidência ou não, os dois textos falam de "ficar", permanecer, não ir embora, como algo essencialmente ligado ao amor.



Porque amo, fico!

E amo mesmo, de verdade. Quem pode me provar dizendo ser falsidade? Fico, e não só agora, ou por um instante, fico por muito tempo e por muito tempo ainda ficarei. Ficarei várias vezes apreciando e desfrutando de todo momento. Ah, como é prazeroso ficar e não ir embora. Sei lá, acho que nasci pra isto, nasci pra ficar. Tenho plena convicção de que devo continuar nisto. Não só nos sábados ou domingos, mas a servindo e a honrando fico, na minha igreja fico!

Foi nela, com ela e por meio dela que aprendi o Caminho, conheci a Salvação e recebi de graça todas as coisas. É claro Deus não habita em templos de mãos humanas, mas Ele habita no meio dos louvores de seu povo, e como é bom ver o seu Espírito agir em nossos espíritos, sentimentos e corpos. Mas é óbvio que Ele não se limita a espaço, templo, tempo, música, domingo, porém é na congregação que vejo ao meu lado um irmão, um ser tão humano quanto eu, e tão cheio d’Ele e do infinito amor d’Ele quanto eu.

Emocionei-me a lembrar de irmãos que me inspiram como a Maurina (passadeira daqui de casa) muito mais cheia de fé que eu, que através de uma simples oração que eu fiz por ela foi curada por Deus de uma alergia e coceira que havia anos irritava seus olhos (em nome de Jesus, é claro). Ou o semi-analfabeto Zé Divino (o Bigode de Fogo), que convenceu meu pai (um pastor) a levar seus discípulos para uma vigília num monte que nem altura tinha. E estávamos lá, orando no meio do mato quando as folhas acenderam. E eu pegava aquelas folhas florescentes na mão e olhava não querendo crer naquilo. Cheguei a brincar com um discípulo do meu pai que é Engenheiro Químico: “E aí, como você explica isso?” Ele respondeu: “É... isso é Deus, eu não explico!”

Podia escrever dezenas ou centenas de páginas só desses relatos que acontecem porque cremos em família, em igreja (também instituição), porque cremos em comunhão, porque pregamos o Reino de Deus sem medo de sermos felizes. Basta saber que o semi-analfabeto bate de dez em dezenas ou centenas de seminaristas que andam por aí com muita instrução, mas nenhuma experiência com o poder de Deus. Caramba! O Bigode de Fogo é um pedreiro que lê a Bíblia umas 5 vezes por ano e ama as vidas. Basta lembrar quantos pastores me ajudaram, de quantos líderes e amigos me socorreram, de como dois desses evitaram até mesmo 
um suicídio.

Gosto de ser mais um na multidão e ao mesmo tempo muito importante para a comunhão. Gosto de cantar músicas mesmo parecendo um mantra de tanto repetitivas e tendo melodias simples são fracas, mas é o que eu com minha voz rouca consigo alcançar e é o que todos conseguem e podem acompanhar. Preciso viver no meio disso, preciso ser cercado de pessoas comuns, mais pobres e mais simples (qual é o plural de simples?), como é gostoso viver cercado de irmãos. Sem isso sou cego ao amor, de outra forma não conheceria a graça, por outro caminho só pensaria em mim mesmo, não saberia respeitar as diferenças e desprezaria o oprimido.

Sim, eu sou fraco. Eu preciso de calor humano, de contato, de sair depois do culto, de participar de acampamentos, de dar ofertas e dízimos, de louvar junto ao grupo, de ouvir pregações ungidas, de cear, batizar, preciso de proteção, cobertura, abrigo: “Ah, eu amo, e porque amo, fico!”

Vítor Ferolla


Aquela suave brisa mais uma vez fica para trás e tenho que regressar ao meu velho caminho, trazendo as lembranças de tanto carinho que ganhei.
Lembranças de emoções que nunca esperei.
De tantas coisas, tantos gestos, tantas pessoas e palavras que fizeram a verdadeira diferença, de sentimentos que eu mesma nem imaginei.
Como esse meu simples emaranhado de palavras poderia expressar aqueles meus pequenos medos querendo vir à tona,
Como poderia explicar a ansiedade de chegar onde há muito tempo esperei,
Como falar de tantas coisas com que sonhei.
Como decifrar os sentimentos de saudade que eram tão grandes que tornavam tudo ainda mais distante, e enchiam minha cabeça de curiosidade, e tudo isso para rever...
Rever aqueles lugares, aqueles rostos, aquelas pessoas, aqueles que são o grande motivo de minha saudade.
Tudo passou muito rápido, mas ao mesmo tempo tudo passou intensamente, e por isso deixou gravadas boas emoções em minha mente.
E posso dizer que apesar de pequenos desacertos tudo valeu a pena ser feito.
Valeu por todas as vezes que pensei em desistir, e que não iria conseguir.
Tudo agora foi recompensado, por saber que estive no lugar onde há muito tempo tenho esperado estar.
E por sentimentos dentro de mim que ainda não sei como explicar, e por todo o afeto e imenso carinho recebido que não sei como recompensar.

Alessandra Almeida

5 de dez. de 2008

pra um descanso



Crônica do amor que amadurece

Pois assim como a noite vinda depois do dia, que não mais pode ser da natureza do dia, mas no seu escuro, nas suas estrelas, tem um encanto, que por ser diverso daquele do dia não deixa de ser um encanto. Assim como nas sucessões físicas, temporais, de toda a natureza, da flor que fenece e cai e se ergue em outra a partir dos grãos derramados até a onda do mar que se espraia e se desfaz e se refaz dos seus restos em nova onda, assim o amor dos primeiros anos, que resistiu à inconstância da paixão, também se faz um sentimento curtido, de marcas e rugas que entranham à vista o sol que se foi, organizando-se em nova pele. Que não tem a elasticidade e o frescor dos primeiros anos. Mas que tem um sabor íntimo do vinho de que se aprendeu a gostar, uma cumplicidade de lições apreendidas ao toque sem palavras, que o rebento dos primeiros verdes fogos não poderiam dar.

Pois não é próprio do fogo o consumo e o autoconsumo, voraz no incêndio e lento depois até as brasas que por fim esfriam? Pois sendo próprio do fogo a destruição inexorável, linear e de sentido único, do começo para o fim, do começo para o fim, e sempre, é no entanto mais próprio da coisa humana o guardar semelhança com os fenômenos naturais, mas sem se deixar reduzir ao que não tem o salto e a qualidade da natureza da gente. Se os primeiros anos de amor são um fogo sem medida, e ao dizer isto guardamos apenas uma cômoda aproximação, pois não são exatamente um fogo a loucura e a impulsividade e o não ter limites os atos e ações daqueles anos, menos própria será a comparação do amor que amadurece ao fogo que lentamente se apaga. Pois se esse amor guarda correspondência com o próprio amadurecimento da gente, e portanto faz sua casa nas rugas do nosso rosto, e por rugas lembrarmos sempre os efeitos do sol ao longo do tempo na matéria couro de nosso semblante, isto não quer dizer, a continuar nesse processo, que o amor que amadurece, por lembrar sol e destruição do frescor, venha a ser um inventário de perdas.

Pois ainda que assim fosse, a esta altura já aprendemos que as perdas na vida não são um número frio, acabado e fechado, afetado de um sinal negativo. Diríamos, num primeiro impulso, que elas se reservam em experiência. Dizendo menos mal, diríamos que as perdas na vida organizam um novo ser, aquele ser que sabe porque aprendeu que a vitória não é bem um metódico e unidirecional fazer a coisa certa. Que a vitória é um fazer inúmeras coisas erradas, que ao receberem uma reflexão e um julgamento iluminam o fazer a coisa menos errada. Que a vitória sobre as trevas é como um labirinto que ocultasse um caminho secreto e inteligível até a maravilhosa saída. Mas ainda aí, nessa tradução de perdas, o amor amadurecido ainda não é alcançado. Pois para ele, para esse amor que sofreu mudanças ao longo dos anos, o que há e o que houve não são nem foram exatamente perdas. Por exemplo, é exatamente uma perda o não levar a amada para a cama com a mesma freqüência dos primeiros tempos? Um cínico, míope, como todos os cínicos, diria que sim. Que uma coisa é fazer sexo, e aqui mais se mostra a miopia ao fazer equivalentes o amor e o sexo, pois uma coisa seria fazer sexo três vezes por dia nos 25 dias de um mês, todos os meses, e outra bem diferente é fazer sexo quando Deus, a conveniência, a oportunidade e as forças forem servidas. Já nessa resposta o cínico não vê a etapa superior que é o prazer que conhece sobre a fome onívora. Enquanto o primeiro evita caminhos precários, já trilhados, a segunda vai às cegas até atingir uma provisória satisfação sempre insatisfeita.

É claro que o amor que amadurece não nos deixa menos carnais, mais virtuosos ou santos. Ele, de um ponto de vista mais pragmático, nos deixa mais perceptivos da bagagem que ao longo da jornada acumulamos. De um ponto de vista menos prático, menos visivelmente prático, queremos dizer, ele é a transformação daquele sentimento juvenil que só desejava a própria satisfação. Que em vez de abrigar buscava urgente abrigo. Em lugar da busca de formas perfeitas, e sabe-se lá o que a carência idealizava como perfeitas, coxas, busto, ventre, rosto, perfume e fetiches ativos e exuberantes, esse amor maduro põe a compreensão de que a estação das formas fôrmas não se guarda nua em mármore. Que aquela pedra é forma oca de experiência. Mas que nem por isso esse amor transformado é um sentimento outonal, do ocaso. Ele não é como o sentimento de alguém que vê a chuva batendo na janela, e aconchegado no calor da sala se diz, “para a rua não poderei mais sair”. Ele é apenas, talvez, uma doce intimidade conquistada. Sujeito a trovoadas, tempestades, pois a vida não é de paz, dentro e fora do sentimento. Mas sem aquelas soluções terminativas, definitivas, dos arroubos sectários dos primeiros anos, “ou isto ou aquilo”.

Esse amor maduro diz melhor, fala melhor às sístoles e diástoles do coração amadurecido. Dele fala melhor o que não é conceito, ao que é essencial encarnado no destino mesmo da gente. E o essencial é que as rugas, as gorduras, os ossos frágeis do objeto que se ama se revelam uma fortaleza. O amor que amadurece ama a pessoa exatamente nesse tempo de aparente decadência física, e por essas, e por causa mesmo dessas formas. As fragilidades físicas se tornam uma qualidade, pois remetem a uma história comum. Esse amor apenas deseja dizer, “saiba que aprendi muito a amar as suas rugas”. O que quer dizer, ele, esse novo amor, não quer vê-la sozinha, ele a quer a seu lado nos próximos, nos poucos e infelizmente poucos anos que lhes restam.

Como flores na praia açoitadas pelo vento. Até que venham as ondas e tudo cubram.
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Belíssimo texto de Urariano Mota, jornalista e escritor. Ele tem colaborado em sites da Espanha, de Portugal, da Rússia (no Pravda) e do Brasil. Publicou o romance Os Corações Futuristas, e tem inédito O caso Dom Vital, ainda à procura de editor.
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FONTE: Comunique-se.
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Ah, um texto desses é pra gente não deixar a amargura e a justa revolta tomarem conta do coração... Tem tanta coisa boa, ainda, nesse mundo, apesar de todas as outras coisas horríveis... Parabéns ao poeta que o escreveu.
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:)

30 de nov. de 2008

nelson rodrigues não é unanimidade. ainda bem.


NELSON RODRIGUES É O REFÚGIO DOS IDIOTAS

Na verdade, segundo Nelson, os idiotas se refugiavam na gramática. Ele também dizia que toda unanimidade era burra (pela atemporalidade da máxima – ainda que inócua –, presume-se que talvez valha até os dias de hoje). Nelson falava em obviedades que ululavam e em sobrenaturais com sobrenomes normais.


As pessoas citam Nelson Rodrigues como fazem em relação aos provérbios. Dão àquilo que tem graça por sua poesia um valor matemático, axiomático, irrecorrível. É como quem leva a sério a brincadeira de que toda regra tem sua exceção, exceto essa regra que, por sinal, é exceção da regra anterior, blablablá.

As pessoas comem Nelson Rodrigues. Engolem de uma vez, sem mastigar. As pessoas o bebem mal sentindo o gosto, como os adolescentes que tomam a enésima cerveja carnavalesca servida em copo de plástico. É a literatura-provérbio, a prosa-adágio, uma obra destinada a pôr termo em discussões de boteco por meio de frases de efeito. É a literatura-palavra-de-ordem.

As pessoas arrotam Nelson Rodrigues. As pessoas cagam Nelson Rodrigues. As pessoas o vomitam, ovulam, ejaculam, deixam-no escorrer pelo nariz e ouvidos e o fazem escapar pelas feridas. As pessoas imitam Nelson Rodrigues no que tem de pior, mesmo sabendo que o pior é o pior, talvez porque também sejam cientes de que esse é o ponto máximo a que conseguem chegar.

As pessoas ainda não se deram conta de que se criou uma unanimidade em torno da obra de Nelson Rodrigues, dando uma ironia ainda maior à frase mais famosa do cronista, do teatrólogo, do comentarista esportivo e do apreciador compulsivo-compulsório de leite. O conservador que falava de sexo.

As pessoas da esquerda, que não gostavam de Nelson Rodrigues, na verdade, nunca chegaram a lê-lo ou, se o fizeram, não foi com a devida atenção. Não sabem de sua tríade política nem nada disso. Mas, se nem mesmo Marx os esquerdistas brasileiros leram, por que exigiríamos a leitura do legendário torcedor do fluminense?

As pessoas são divididas em grupos, todos eles elaborados de acordo com a forma pela qual elas lidam com seus desejos – acho que é algo assim, não lembro muito bem das explicações da Dri, da Carol e do Doni. Os fãs de Nelson Rodrigues são todos histéricos: uns disfarçados de obsessivos, outros, de perversos.

Eu detesto os fãs de Nelson Rodrigues mais do que detesto os das duplas sertanejas ou conjuntinhos de meninos dançantes. E, para azar daqueles, preciso existir pra fazer valer o axioma da unanimidade.

Deixem-me aqui, portanto e, de preferência, em paz.

As pessoas, para Nelson Rodrigues, eram todas umas idiotas, pecadoras, viciadas, condenadas, deploráveis e burras. Muito, muito, mas muito burras. Tanto que a razão sempre se superava pelo desejo, pelo instinto, pelas vontades subterrâneas.

Ele estava certo. E eu não gosto das pessoas.

Vocês são a horda inteligentíssima que venera Nelson Rodrigues e vê no autor as virtudes de um Messias Literário; são os responsáveis pela torrespastorinhização de sua literatura. E eu sou a toupeira que não os acompanha, de modo a não permitir que essa devoção se torne uma unanimidade.

Talvez, assim, eu os salve da burrice. Ao menos, segundo o provérbio (ou profecia?) de seu cronista-messias-salvador.


Texto retirado do Blog Gravatai Merengue. Colaboração de Olavo de Carvalho.

20 de ago. de 2008

Um olá, e um bom dia.

Olá, meus amigos, visitantes aqui do Blog... Me desculpem, mas ultimamente ando um pouco ocupada, e no final das contas adio as postagens. Tenho muita coisa boa pra colocar aqui no Blog. Coisas excelentes. Aos poucos espero que dê pra postar tudo.
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Ontem estava andando pela rua Cel. Moreira César, que fica no cruzamento da rua onde moro, no bairro de Icaraí, Niterói, Rio, e achei tudo tão lindo! Não sei o que foi, mas eu vi tudo - as pessoas, cada uma delas, os vendedores, as lojas, as árvores, a calçada, o tempo, a brisa que vinha do mar - de um modo encantado, como se a beleza que eu percebia não estivesse lá antes. A Moreira César é sempre cheia de gente, casais, crianças, bebês passeando em carrinhos, velhinhos, jovens. E também os cachorros, das raças mais diferentes. As lojas são muito coloridas, as calçadas são largas, dá pra andar com tranqüilidade. Às vezes me lembra Paris, também. Paris na primavera.
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Mas ontem a beleza extrapolou. E eu me dei conta, também, que já conheço o dono da banca de jornais, as meninas do salão onde vou, a dona da loja de retoques, que prega um botão, troca elástico, o gerente da temakeria, a minha esteticista, gente muito boa, o português dono da padaria... É assim, a gente vai sendo moldado pelo ambiente.
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Fui até a esquina com a Presidente Backer, conversei com a dona do Pet Shop que fica pertinho da avenida da praia, comprei ração, voltei, fui parada por candidatos de um partido político e lá fiquei, conversando sobre o país, sobre o Rio e sobre Niterói (que eu conheço pouco a pouco...) e seus problemas.
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Continuei, depois de uma conversa de uns vinte minutos (candidato em época de eleição sempre tem o que falar), e lá na frente, perto do cruzamento com a Osvaldo Cruz, vi uma multidão. Muita gente, carros parados, polícia, bombeiros.
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Duas senhoras, velhinhas, tinham sido atropeladas por um rapaz jovem, que decidiu fazer malabarismo com a moto em plena tarde de terça-feira, numa rua movimentada, de população idosa significativa. Uma das senhoras morreu na hora, a outra foi levada para o hospital com vida. O rapaz, dizem, fugiu correndo. Mas a moto ficou. O sangue de uma delas estava no asfalto, ainda tão vermelho, escorrendo, e um rapaz que estava ao meu lado jogou água pra diluir.
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De repente, acordei. Fiquei triste, porque a beleza, ainda que exista, é tão frágil e fugidia, tão imperfeita.
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O mundo é mesmo pequeno, uma das senhoras morava no prédio em que eu moro. Mas eu não a conhecia.
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30 de jul. de 2008

Khalil Gibran el Khalil

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E um jovem disse: Fala-nos da Amizade.
E ele respondeu, dizendo:
Vosso amigo é a resposta a vossas necessidades.
Ele é o campo que semeais com amor e colheis com agradecimento.
É a vossa mesa e o vosso fogão.
Pois vindes a ele com fome e o buscais para ter paz.
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Quando vosso amigo fala com sinceridade, não tenhais medo do "não" em vossa mente, nem restrinjais o "sim".
E quando ele estiver silencioso, vosso coração não deixa de escutar o coração dele;
Pois sem palavras, na amizade, todos os pensamentos, todos os desejos e todas as expectativas nascem e são compartilhados, com uma alegria imensurável.
Quando sois parte de vosso amigo, não sofreis;
Pois o que mais a amais nele poderá ficar mais claro em sua ausência, como a montanha, para o alpinista, fica mais clara da planície.
E que o propósito da amizade não seja mais do que aprofundar o espírito.
Pois o amor que busca mais do que a descoberta de seu próprio mistério não é amor, mas uma rede: e apenas o inútil é pescado.
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E que o que tenhais de melhor seja para o vosso amigo.
Para que ele conheça a vazante da vossa maré, deixai também que conheça a vossa enchente.
Pois o que é vosso amigo para que o busqueis para matar o tempo?
Buscai-o sempre para viver o tempo.
Pois ele deverá preencher vossa necessidade, mas não vosso vazio.
E, na doçura da amizade, que haja risos e o compartilhar de prazeres.
Pois no orvalho das pequenas coisas é que o coração encontra sua manhã e se renova.
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Khalil Gibran el Khalil, escritor libanês, em O Profeta.
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18 de jun. de 2008

carta a um amigo

Prezado Paulo Silvano,
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Penso ainda em seu comentário, no qual percebo que você se ressente de minha aparente desistência em postar aqui temas relativos ao mundo evangélico.
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Achei a questão importante, pois desde minha primeira postagem tenho me preocupado em relacionar textos aparentemente não-espirituais à realidade espiritual que vivo. Esta realidade é o que há de mais sublime em mim, e posso dizer que é não só a minha alegria como também o que move minha vida, o que me dá alento e me consola.
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Não poderia deixar de pensar, tendo em vista sua observação, que Deus cerca e está presente em tudo o que vivo, pois Ele é antes que eu fosse, e as horas que passam, uma a uma, têm todas a marca de sua eternidade.
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É este Deus o que tenho de mais precioso, aquele em quem coloco o meu coração, minha herança única e meu tesouro, minha esperança de vida, por quem vivo e por quem vale a pena viver.
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Nos movimentos de meu braço, e nos passos sobre a calçada, quando respiro, e à noite, no que há de mais prosaico e nos momentos de contrição diante de sua majestade, em tudo eu o percebo, em todas as coisas vejo seu cuidado e atenção, sua amizade fraternal, seu carinho maternal, seu cuidado paternal, sua longanimidade e paciência divinas -- costumo dizer que Ele é tudo em si mesmo, é meu Deus mas é também minha mãe, é meu pai, é meu irmão, meu amigo, meu marido, meu filho. Mesmo que eu quisesse, se assim me fosse possível, ainda que tentasse dele me afastar, seria em vão.
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Como diz o salmista, se vou à montanha mais alta, ou ao vale mais profundo, lá eu o encontro. Minha alma anseia por Ele, pois eu me dou conta de que não há nada que com Ele se pareça, Ele em sua perfeição tão exata. Não há ser humano que lhe seja semelhante, nem nada sobre este mundo que reflita sua beleza de modo fiel.
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Toda a minha vida, certamente, existe por Ele, e para Ele. Junto a Ele encontro paz, confiança, a certeza de que nada dele me separará e de que Ele retifica todos os meus caminhos, e orienta meus pés, e dirige meus olhos. Ele vive em mim, é o meu amor, minha esperança, aquele a quem tributo toda a honra, e a glória, e a alegria dos meus dias que passam cada vez mais rapidamente, e a energia desta vida de vaidade e cansaço.
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Se faço algo, imperfeito certamente, é para Ele. Se trabalho, se estudo, se acordo, se respiro, é para Ele. O perdão para meus erros vem dele, a confissão de minha imperfeição a Ele pertence.
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Tenho me dedicado a postar sobre temas que fazem parte de um universo em que Ele é o centro, sim. Se reclamo da injustiça, é porque acredito que Ele é o Deus da Justiça, e que dos injustiçados, dos pobres, dos pequenos é o seu Reino. Se falo da beleza das coisas, e da natureza, e das pessoas, e da vida, e de tanto mais, é porque creio que em cada um há seu gênio criador, que todo o Universo Ele o fez de modo incomparável, e que deu ao ser humano seu fôlego de vida para que respirasse, cantasse, se alegrasse. Se me detenho na ciência, também o faço porque creio que sabedoria, inteligência e conhecimento dele vêm, e procuro fazer com excelência as tarefas que a mim me são confiadas. Sei que não sou nada em mim mesma, e seria pretensão e correr atrás do vento exaltar a mim, ou ao que quer que fora dos seus propósitos exista.
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Tudo o que sou é, sim, por Ele. A alegria, a luta quotidiana, a crítica, a indignação, a análise, o estudo -- tudo -- procuro fazer e ser para Ele.
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Que Ele me instrua, assim, caro Paulo Silvano, acerca de sua exortação fraternal, segundo sua santa vontade e seus caminhos.
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Um abraço,
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Mayalu

15 de jun. de 2008

Luis Fernando Verissimo [8]

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A Espada
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Uma família de classe média alta. Pai, mulher, um filho de sete anos. É a noite do dia em que o filho faz sete anos. A mãe recolhe os detritos da festa. O pai ajuda o filho a guardar os presentes que ganhou dos amigos. Nota que o filho está quieto e sério, mas pensa: "É o cansaço". Afinal ele passou o dia correndo de um lado para o outro, comendo cachorro-quente e sorvete, brincando com os convidados por dentro e por fora da casa. Tem que estar cansado.
- Quanto presente, hein, filho?
- É.
- E esta espada. Mas que beleza. Esta eu não tinha visto.
- Pai...
- E como pesa! Parece uma espada de verdade. É de metal mesmo. Quem foi que deu?
- Era sobre isso que eu queria falar com você.
O pai estranha a seriedade do filho. Nunca o viu assim. Nunca viu nenhum garoto de sete anos sério assim. Solene assim. Coisa estranha... O filho tira a espada da mão do pai. Diz:
- Pai, eu sou Thunder Boy.
- Thunder Boy?
- Garoto Trovão.
- Muito bem, meu filho. Agora vamos pra cama.
- Espere. Esta espada. Estava escrito. Eu a receberia quando fizesse sete anos.
O pai se controla para não rir. Pelo menos a leitura de história em quadrinhos está ajudando a gramática do guri. "Eu a receberia..." O guri continua.
- Hoje ela veio. É um sinal. Devo assumir meu destino. A espada passa a um novo Thunder Boy a cada geração. Tem sido assim desde que ela caiu do céu, no vale sagrado de Bem Tael, há sete mil anos, e foi empunhada por Ramil, o primeiro Garoto Trovão.
O pai está impressionado. Não reconhece a voz do filho. E a gravidade do seu olhar. Está decidido. Vai cortar as histórias em quadrinhos por uns tempos.
- Certo, filho. Mas agora vamos...
- Vou ter que sair de casa. Quero que você explique à mamãe. Vai ser duro para ela. Conto com você para apoiá-la. Diga que estava escrito. Era o meu destino.
- Nós nunca mais vamos ver você? - pergunta o pai, resolvendo entrar no jogo do filho enquanto o encaminha, sutilmente, para a cama.
- Claro que sim. A espada do Thunder Boy está a serviço do bem e da justiça. Enquanto vocês forem pessoas boas e justas poderão contar com a minha ajuda.
- Ainda bem - diz o pai.
E não diz mais nada. Porque vê o filho dirigir-se para a janela do seu quarto, e erguer a espada como uma cruz, e gritar para os céus "Ramil!" E ouve um trovão que faz estremecer a casa. E vê a espada iluminar-se e ficar azul. E o seu filho também.
O pai encontra a mulher na sala. Ela diz:
- Viu só? Trovoada. Vai entender este tempo.
- Quem foi que deu a espada pra ele?
- Não foi você? Pensei que tivesse sido você.
- Tenho uma coisa pra te contar.
- O que é?
- Senta, primeiro.
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***
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Crônica de Luis Fernando Veríssimo publicada no livro Comédias da Vida Privada - 101 crônicas escolhidas. Porto Alegre: L & PM, 1994, p. 240-241.

8 de jun. de 2008

Luis Fernando Veríssimo [7]


O suicida e o computador

Depois de fazer o laço da forca e colocar uma cadeira embaixo, o escritor sentou-se atrás da sua mesa de trabalho, ligou o computador e digitou:

"No fundo, no fundo, os escritores passam o tempo todo redigindo a sua nota de suicida. Os que se suicidam mesmo são os que a terminam mais cedo."

Levantou-se, subiu na cadeira sob a forca e colocou a forca no pescoço. Depois retirou a forca do pescoço, desceu da cadeira, voltou ao computador e apagou o segundo "no fundo". Ficava mais enxuto. Mais categórico. Releu a nota e achou que estava curta. Pensou um pouco, depois acrescentou:

"Há os que se suicidam antes para escapar da terrível agonia de encontrar um final para a nota. O suicídio substitui o final. O suicídio é o final."

Levantou-se, subiu na cadeira, colocou a forca no pescoço e ficou pensando. Lembrou-se de uma frase de Borges. Encaixa, pensou, retirando a corda do pescoço, descendo da cadeira e voltando ao computador. Digitou:

"Borges disse que o escritor publica seus livros para livrar-se deles, senão passaria o resto da vida reescrevendo-os. O suicídio substitui a publicação. O suicídio é a publicação. No caso, o livro livra-se do escritor."

Levantou-se, subiu na cadeira, mas desceu da cadeira antes de colocar a forca no pescoço. Lembrara-se de outra coisa. Voltou ao computador e, entre o penúltimo e o último parágrafo, inseriu:

"Há escritores que escrevem um grande livro, ou uma grande nota de suicida, e depois nunca mais conseguem escrever outro. Artribuem a um bloqueio, ao medo do fracasso. Não é nada disso. É que escrevem a nota, mas esqueceram-se de se suicidar. Passam o resto da vida sabendo que faltou alguma coisa na sua obra e não sabendo o que é. Faltou o suicídio."

Levantou-se, ficou olhando a tela do computador, depois sentou-se de novo. Digitou:

"No fundo, no fundo, a agonia é saber quando se terminou. Há os que não sabem quando chegaram ao final da sua nota de suicida. Geralmente, são escritores de uma obra extensa. A crítica elogia sua prolixidade, a sua experimentação com formas diversas. Não sabe que ele não consegue é terminar a nota."

Desta vez não se levantou. Ficou olhando para a tela, pensando. Depois acrescentou:

"É claro que o computador agravou a agonia. Talvez uma nota de suicida definitiva só possa ser manuscrita ou datilografada à moda antiga, quando o medo de borrar o papel com correções e deixar uma impressão de desleixo para a posteridade leva o autor a ser preciso e sucinto. Tese: é impossível escrever uma nota de suicida num computador."

Era isso? Ele releu o que tinha escrito. Apagou o segundo "no fundo". Era isso. Por via das dúvidas, guardou o texto na memória do computador. No dia seguinte o revisaria. E foi dormir.

***

Crônica de Luis Fernando Veríssimo publicada no livro Comédias da Vida Privada - 101 crônicas escolhidas. Porto Alegre: L & PM, 1994, p. 142-143.
FOTOGRAFIA:
/lfv - Um guia sobre o escritor Luis Fernando Verissimo

3 de jun. de 2008

as línguas

Não há dúvida que as línguas se aumentam e alteram com o tempo e as necessidades dos usos e costumes. Querer que a nossa pare no século 500 é um erro igual ao de afirmar que a sua transplantação para a América não lhe inseriu riquezas novas. A este respeito, a influência do povo é decisiva.
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Machado de Assis, fundador da Academia Brasileira de Letras.
A citação é de 1873...

PARE


Pare agora. Pare com isso. Vá à raiz, vá ao centro, não se desvie, não seja prolixo nem perifrástico. Não seja redundante. Não se repita. Pare de usar seu passado, bom ou mau, pra se enaltecer. Pare de usar o que já houve em sua vida pra justificar o modo como você tem vivido. Tudo se fez novo, o passado é uma sombra. Pare de viver na sombra, viva na luz. Você é o único responsável por sua felicidade. Ou pela infelicidade. Não é o seu pai, nem a sua mãe, nem mais outro que tenha seguido seu caminho sem você. Por isso você não é tampouco responsável pela felicidade de ninguém. E ninguém deve nada a você, ainda que essa idéia alimente seu sentimento de autopiedade. Não fuja do erro, não fuja do cerco, não fuja do medo, não fuja. Você nunca enfrentou nada realmente sozinho - não, você não é um herói. Você não vai salvar o mundo, você não tem a verdade absoluta. Não olhe para quem está ao seu lado como inimigo porque ele pensa de outro modo. Não abdique de suas convicções para fazer parte do que quer que seja. Sobretudo, lembre-se de que você não deve nada a ninguém, a não ser o amor. Não se junte em grupos que exaltarão suas qualidades. Você não é Deus. Você não precisa se explicar o tempo todo, você já foi justificado. Sua fé não é motivo de orgulho, não é motivo de soberba, não é motivo de nada que não seja sua imensa vergonha por se ver nu diante do que é Perfeito. Pare de se olhar no espelho, pare de olhar pela janela, pare de olhar pela televisão, pelo monitor do computador. O ser humano com o qual você tem a imensa dívida do amor - esse amor que foi dado a você abundantemente, de graça, mas que custou um preço alto que você não pagou - não está nesses lugares. Ele está nas prisões, nos hospitais, asilos, orfanatos, lixões, favelas, esgotos, sinais de trânsito, prostíbulos, clínicas, calçadas, sarjetas. Estenda a mão e creia, você não é melhor do que ninguém. Porque o tesouro que você acha que está em você não é você. Está dentro de você, mas não é você.

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Mayalu Felix
São Luis, 06/11/2007

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Postagem antiga aqui do Blog, de novembro de 2007 (antiga?)
FOTOGRAFIA: Web

2 de jun. de 2008

Luís Fernando Verissimo [6]


Gaúchos e Cariocas


É preciso dizer que estávamos naquela brumosa terra de ninguém, que fica depois do décimo ou décimo-quinto chope. Tão brumosa que não dá mais para distinguir entre o décimo e o décimo-quinto. Tínhamos sido apresentados no começo da noite mas já éramos amigos de infância. Em poucas horas nossa amizade passara por vários estágios, desde o "leste Memórias de Adriano?" até as piores confidências, e agora nos comportávamos como confrades, como se nossa amizade fosse mais antiga que nós mesmos. Isto é, estávamos brigando.

- Vocês gaúchos...

- O que é que tem gaúcho?

- Pra mim gaúcho é tudo veado.

- Não radicaliza.

- Se tem que dizer que é macho, é porque não é.

- Lá no sul se diz que numa briga de gaúcho, paulista, mineiro e carioca, o gaúcho bate, o paulista apanha e o mineiro tenta apartar.

- E o carioca?

- Fugiu.

- Viu só? Pensam que são mais machos que os outros. Diz que as bichas cariocas estavam invadindo o seu mercado: "Voltem para o Rio. Go Home!" Aí as bichas cariocas reagiram: "Ah, é? Então tirem as gaúchas de lá."

- Está aí, fugiram. Mas isso tudo é mágoa porque são os gaúchos que mandam neste país. Vocês estão assim desde que nós amarramos os cavalos ali no obelisco.

- Aliás, essa fixação no obelisco...

- Gaúcho é o único brasileiro sério.

- Sem graça não é sério.

- Só o gaúcho fala português. Essa língua de vocês não existe. Paulista põe "i" onde não tem. Vocês falam chiando. Onde tem um "r" botam dois e onde tem dois botam quatro.

- Vocês falam espanhol errado e pensam que é português!

- Mas o que a gente diz é pra valer. Não é como carioca que diz uma coisa e quer dizer outra.

- Ah, é?

- É. Quando carioca encontra alguém, diz: "Meu querido!", quer dizer que não se lembra do nome. "Precisamos nos ver" quer dizer "está combinado, eu não procuro você e você não me procura".

- O que vocês não agüentam é que nós, cariocas, somos informais, bem-humorados...

- Isso é mito. Entra num "Grajaú-Leblon" lotado na Nossa Senhora de Copacabana, às três da tarde, no verão, que eu quero ver o bom humor.

- Não radicaliza.

- Os mitos cariocas. O Zico, por exemplo...

- Eu sabia. Eu sabia que ia chegar o Zico!

- O Zico é uma entidade abstrata criada pelo inconsciente coletivo do Maracanã.

- O Campeão do Mundo. Campeão do Mundo!

- Porque não entrou nenhum inglês no calcanhar dele. Se encosta um, o Zico cai.

- É. O bom é o Batista.

- Não troco um Batista por dois Zico.

- Ai meu Deus. Ai meu Deus!

- Outra coisa: mulher.

- Claro. Mulher. A mulher carioca não vale nada.

- Vale. Mas é sempre da mesma cor. Mulher tem que ir mudando de cor com as estações. Quando chega o verão as gaúchas vão tostando aos poucos, como carne num braseiro de chão, até estar no ponto. Só ficam prontas mesmo em fevereiro. A carioca está sempre bem passada. É como comer churrasco em bandeja.

- É. A medida de todas as coisas, para o gaúcho, é o churrasco. A comida mais sem imaginação que existe.

- Vai dizer que comida é isto que vocês comem aqui?

- Mas bá.

Eu estava levando o chope à boca e parei.

- O que foi que você disse?

- Eu? Nada.

- Você disse "mas bá".

- Não disse.

- Disse. Eu ouvi nitidamente um "mas bá".

- Está bem. Eu disse.

- De onde você é?

- Dom Pedrito.

Estava no Rio há menos de dois anos e chiava como uma locomotiva no cio. Mas não me senti triunfante. Me senti derrotado. Eu estranhara ele não ter dito: "Se você gosta tão pouco do Rio, o que é que está fazendo aqui?" Eu não poderia responder a não ser com a verdade, que era fascinado pelo Rio. Uma característica de gaúcho é que gaúcho é fascinado pelo Rio. E ali estava ele como prova que depois do fascínio vinha a rendição, a vitória carioca. Acabou a discussão. Nos despedimos e saímos, cada um cambaleando para um lado. Na saída ele ainda disse:

- Precisamos nos ver...

***

Crônica de Luis Fernando Veríssimo publicada no livro Comédias da Vida Privada - 101 crônicas escolhidas. Porto Alegre: L & PM, 1994, p. 159-161

Letras no Rio de Janeiro


A Cátedra Jorge de Sena divulga a conferência do Prof. Helder Macedo
(King's College) na Academia Brasileira de Letras
no contexto das comemorações machadianas

Conferências da Academia Brasileira de Letras

Teatro R. Magalhães Jr. (segundo andar do prédio novo da Academia)
HORÁRIO: TERÇAS-FEIRAS ÀS 17:30
ENTRADA FRANCA
4º Ciclo de Conferências: "Aspectos da literatura machadiana I"
Coordenação: Ivan Junqueira

24/6 - Helder Macedo: "A cigana e o mulato"

CONTINUAÇÃO DO CICLO MACHADIANO:
01/7 - Luis Paulo Horta e José Miguel Wisnik: "A música em Machado de Assis
08/7 - Alberto da Costa e Silva : "A paisagem em Machado de Assis"
15/7 - Nélida Piñon: "O Rio de Janeiro na ficção machadiana"
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IMAGEM: Web

30 de mai. de 2008

Letras em Niterói - RJ (agenda)

Palestra: O perspectivismo narrativo de Machado de Assis

Palestrante: Ronaldes de Melo e Souza - UFRJ

Dia: 2 de junho, segunda-feira;
Horário: às 19 horas;
Local: Auditório Macunaíma (sala 405);
Instituto de Letras - Campus do Gragoatá - Bloco B - São Domingos - Niterói;
Universidade Federal Fluminense (UFF).

ENTRADA FRANCA
Haverá emissão de certificado

Realização: Laboratório de Ecdótica – LABEC
Departamento de Ciências da Linguagem
E-mail:
labec@vm.uff.br
Telefone: (21) 2629-2617

26 de mai. de 2008

por que sou cristã? - III

Sou cristã porque vejo, na vinda de Jesus em carne, em toda a humilhação que sofreu, em sua entrega, voluntária, ao sacrifício, em sua simplicidade e humildade, algo que não consigo ver em nenhuma outra teogonia, em nenhuma outra concepção teológica, nem no Deus proclamado pelos judeus, nem no profeta dos muçulmanos, nem nos deuses hindus e em todos as demais concepções politeístas, nem no budismo, nem no espiritismo: a mais profunda identificação com o ser humano, com seus dramas, sentimentos, contradições, alegrias, satisfações, angústias.
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Essa aproximação, iniciativa de Deus para chegar à humanidade, é pessoal e coletiva, mas talvez por ser primeiramente pessoal e íntima, dada de modo irrestrito, profundo e de graça, é que o Cristo seja tão singular em meio a divindades, concepções filosóficas, teorias. O Deus Cristo é um humano, também. Sentiu dores humanas, tinha hábitos humanos. Nunca percebi tanta proximidade e identificação com a beleza e a miséria humanas em outras visões espirituais.
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Isso é algo sublime. É nobre, porque Deus se coloca humildemente a serviço do homem. Ele é também o maior servo, exatamente porque é Deus. Só Deus saberia e poderia ser o servo perfeito. Um deus todo-poderoso que não se desse o serviço por amor seria um tirano, um algoz, um ditador. Mas Ele não se impõe, não humilha, não se sobrepõe - apesar de ser todo-poderoso. Jesus deu sua vida, a ofereceu, e não cobrou nem cobra nada por isso: a quem se aproxima, com sede, há amor em abundância. Não há contrapartida, não há troca, não há mercado nem paga. Àqueles que a Ele se submetem, por vontade própria, Deus os faz mais e mais livres. O que parece ser paradoxo e contradição é o que faz com que quem a Ele se sujeite deseje profundamente a mais completa obediência e submissão, de modo progressivo e incondicional, sem jamais abdicar de sua identidade, de sua condição humana, de sua personalidade. Deus dá ao homem a possibilidade de escolha, em todas as situações. É pela liberdade que Ele nos oferece que nós o conhecemos.
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Para se fazer conhecer do homem, Deus então se despe, se despoja de sua grandeza, de sua majestade, e vem em corpo humano com todas as mazelas dessa existência carnal: o envelhecimento, a sede, a fome, o sono...
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Exatamente por se deixar conhecer de modo tão vulnerável, sem honras nem brilhos, como homem, é que o Cristo é o que há de mais nobre, de mais perfeito, magnífico, eterno, atemporal, puro, amoroso, honesto, sincero e digno. Por isso, também, sou cristã.
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Mayalu Felix
Niterói, 26/05/2008

25 de mai. de 2008

agenda: três

CONVITE

Como parte dos eventos culturais, fará parte da Sétima Semana de Letras (UFMA), que ocorrerá de 26 a 30 de maio de 2008, o relançamento dos seguintes livros, todos de autores maranhenses:

1."Car c'était l'heure des rêves vivants: 7 contes inédits"/ "Pois era a hora dos sonhos vivos: 7 contos inéditos"

Autores: Charles Simões, Fernanda Costa, Eva Maria Nunes Chatel, Maria Elza Bello, Mayalu Felix, Rossana Ingrid e Teresinha Rocha Braga.

Trata-se de uma edição bilíngüe (francês/português) de contos escritos por sete professores de francês de São Luís, durante uma oficina de produção textual ministrada pelo escritor francês Marc Trillard.

Preço do livro: R$ 10,00
Data: 27 de maio de 2008 (terça-feira), às 18h00
Local: Auditório B (CCH)/UFMA
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2. "Só por uma estação"

Autor: Antonio Noberto

"Romance que fala de História e Turismo em São Luís, no Maranhão e na Europa. É uma publicidade dos pontos turísticos de São Luís e do Maranhão" (Antonio Noberto)
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Preço do livro: R$: 15,00
Data: 28 de maio de 2008 (quarta-feira), às 18h00
Local: Auditório B (CCH)/UFMA
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3. "Juliana" (edição tradicional e em Braille)
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Autora: Suely Moura de Oliveira
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"Este é o meu quarto livro para o público infantil. É um convite ao mundo imaginário, transportando-o para a vida real, onde este torna-se possível." (Suely Moura de Oliveira)
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Preço do livro: R$ 10,00
Data: 29 de maio de 2008 (quinta-feira), às 18h00
Local: Auditório B (CCH)/UFMA
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Todos os autores estarão presentes,
disponibilizando-se para questionamentos e autógrafos.

Viva a cultura maranhense!

18 de mai. de 2008

por que sou cristã? - II

Sou cristã porque tenho uma idéia de minha limitação frente a tudo - à vida, a mim mesma, aos outros. Se acreditasse que por mim mesma, por minhas atitudes e forças pudesse lograr qualquer coisa em minha vida, seria adepta de outra religião. O que não faltam são caminhos que indicam um esforço próprio para se atingir a salvação, o equilíbrio, a paz. Pela caridade, ou pela meditação, ou por algum outro sacrifício pessoal ou material é que se chega à recompensa, é isso que nos ensinam os preceitos espíritas, budistas, islâmicos, judeus... No cristianismo, o sacrifício não é meu, e nem poderia ser, tendo em vista a limitação desta existência, a condição humana de falibilidade e a impossibilidade de se atingir, por regras ou atitudes pontuais, a graça divina.
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Ora, graça é graça, não pode ser paga, é favor imerecido. Não vi, ainda, em que outra concepção teológica a noção de graça seria mais profunda e ontológica que no cristianismo. É graça a existência, é graça a salvação, é graça qualquer bênção. Esse deslocamento do "fazer", do homem para Deus, resitui a Deus o que só Ele pode de fato realizar, que é a completa restauração espiritual humana.
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Mas o reconhecimento da incapacidade e da limitação da humanidade é ao mesmo tempo uma vitória, pois nessa idéia está, subjacente, o pressuposto de que o homem não precisa se provar nada, nem a si mesmo nem a Deus. De que seus esforços devem redundar no descanso, na alegria, no amor, na verdade - em Deus, jamais fora dele, pois fora dele nada há.
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Mayalu Felix
Niterói, 18/05/2008

17 de mai. de 2008

Quem sai sob a chuva quer se molhar. Quando leio meus textos, recentes ou antigos, vejo uma mudança que se fez no estilo e nas postagens, é claro, em consonância comigo mesma. Às vezes fico envergonhada de alguns textos, de certas poesias. Há dias em que leio postagens antigas querendo apagar tudo o que me parece ridículo. Por que, afinal, criei este blog? Atualmente, ando hibernando, mais dentro de casa do que fora, mais circunspecta que extrovertida, mais calada que comunicativa, mais ensimesmada que exposta. Nisso, a vontade de sair apagando postagens de uma fase outra é grande.
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Mas não sei se isso é honesto. O que é publicado, é dado ao público - pode ser tomado de volta? Confesso, costumo falar com desenvoltura e facilmente me comunico e consigo transmitir verbalmente o que quero. Mas hoje isso muda. Muda porque vejo que é necessário guardar o coração, guardar o que se é como uma pedra importante, da qual só eu sei proteger como penso que deva ser preservada. A alma, o coração, o que se sente - não importa o nome - é em cada um algo a se cuidar, cuidar que não seja vulgarizado, cuidar que não seja coisificado.
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Aqui estou eu, me expondo de novo, para dizer que não quero me expor, que não gosto. Quem lê este texto agora deve se perguntar o que eu desejo, afinal. Acreditem, gostaria de transformar tudo isso - o blog, com as postagens, os links, as músicas e tudo o mais - em silêncio, silêncio significante, auto-explicável. Mas recorro de novo às palavras para me justificar.
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Fernando Pessoa disse que todas as cartas de amor são ridículas. Se não fossem ridículas, não seriam cartas de amor. Creio que todas as pessoas que escrevem cartas de amor são ridículas, e todas as pessoas que escrevem outra coisa, em vez de cartas de amor, também são ridículas. Todo ser humano que se manifesta já se expõe, corajosamente, no bojo de sua expressão, ao ridículo. Não há nada mais ridículo e francamente covarde que viver, aliás - os sublimes e corajosos não contam história.
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Portanto, leitores, não se surpreendam: eu sou um ser humano, e este é o meu blog.
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Mayalu Felix
Niterói, 17/05/2008

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