Creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais simpático, de mais viril e de mais perfeito do que o Cristo; e eu digo a mim mesmo, com um amor cioso, que não existe e não pode existir. Mais do que isto: se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se acha n'Ele, prefiro ficar com o Cristo a ficar com a verdade. (Dostoievski)

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16 de ago. de 2007

Luis Fernando Veríssimo [1]

O ladrão de galinhas

Pegaram o cara em flagrante roubando galinhas de um galinheiro e levaram pra delegacia.
-- Que vida mansa, heim, vagabundo? Roubando galinha pra ter o que comer sem precisar trabalhar. Vai para a cadeia!
-- Não era para mim não. Era para vender.
-- Pior. Concorrência desleal com o comércio estabelecido. Sem-vergonha!
-- Mas eu vendia mais caro.
-- Mais caro?
-- Espalhei o boato que as galinhas do galinheiro eram bichadas e as minhas não. E que as do galinheiro botavam ovos brancos enquanto as minhas botavam ovos marrons.
-- Mas eram as mesmas galinhas, safado!
-- Os ovos das minhas eu pintava.
-- Que grande pilantra!
Mas já havia um certo respeito no tom do delegado...
-- Ainda bem que tu vai preso. Se o dono do galinheiro te pega...
-- Já me pegou. Fiz um acerto com ele. Me comprometi a não espalhar mais boato sobre as galinhas dele, e ele se comprometeu a aumentar os preços dos produtos dele para ficarem iguais aos meus. Convidamos outros donos de galinheiro a entrar no nosso esquema. Formamos um oligopólio. Ou, no caso, um ovigopólio.
-- E o que você faz com o lucro do seu negócio?
-- Especulo com dólar. Invisto alguma coisa no tráfico de drogas. Comprei alguns deputados. Dois ou três ministros. Consegui exclusividade no suprimento de galinhas e ovos para programas de alimentação do governo e superfaturo os preços.
O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso e perguntou se a cadeira estava confortável, se ele não queria uma almofada. Depois perguntou:
-- Doutor, não me leve a mal, mas com tudo isso o senhor não está milionário?
-- Trilionário. Sem contar o que eu sonego de Imposto de Renda e o que eu tenho depositado ilegalmente no exterior.
-- E, com tudo isso, o senhor ainda continua roubando galinhas?
-- Às vezes. Sabe como é.
-- Não sei não, excelência. Me explique.
-- É que, em todas essas minhas atividades, eu sinto falta de uma coisa, do risco, entende? Daquela sensação de perigo, de estar fazendo uma coisa proibida, da iminência do castigo. Só roubando galinhas eu me sinto realmente um ladrão, e isso é excitante. Como agora. Fui preso, finalmente. Vou para a cadeia. É uma experiência nova.
-- O que é isso, excelência? O senhor não vai ser preso não.
-- Mas eu fui pego em flagrante pulando a cerca do galinheiro!
-- Sim. Mas é primário, e com esses antecedentes...

Luis Fernando Veríssimo, em Comédias da Vida Privada.

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