São poucos brasileiros que conheço que usam o Futuro do Presente a seco, da forma como ele aparece fossilizado nos livros. Queremos parecer menos afetados (e, suspeitam alguns, mais americanos) e recorremos incessantemente ao atalho do verbo ir.
Fora honrosas exceções, no diálogo informal não dizemos “transferirei a ligação”, mas “vou transferir a ligação”.
Não dizemos “ele ficará uma fera”, mas “ele vai ficar uma fera”.
Não dizemos “o professor entregará as notas”, mas “o professor irá entregar as notas”.
Essas liberdades que tomamos de ignorar um tempo verbal inteiro já me confundiram e muito. Certa vez, depois de travar irremediavelmente diante da mais simples das orações, recorri ao serviço do telegramática: “Qual é a forma certa”, implorei ao sujeito que me atendeu: “o homem vai viajar” ou “o homem irá viajar”? Por dois ou três reais que caíram imperceptivelmente na conta telefônica, oraculou-me aquele anônimo gramático que as duas formas estão corretas. Aparentemente, tanto faz. O homem irá ou o homem vai – de uma forma ou de outra.
Você vai ir?
A nossa liberdade do cativeiro Futuro do Presente, garantida pela intermediação multitarefa do verbo auxiliar ir, gerou inúmeras excentricidades. Foi o Juliano (que trabalhou ao meu lado alguns inesquecíveis meses na SK, hoje é tatuador e de vez em quando deixa uma esmola aqui na Bacia) que apresentou-me sem querer a que considero a mais preciosa delas: a locução verbal ir ir.
Para tocar horror, e por saber o quanto me agradavam gírias e modos de falar pitorescos e/ou inesperados, lembro que o Juliano recorria o tempo todo ao ir ir.
– Você vai ir, Purim? – ele perguntava candidamente, referindo-se a alguma festa.
E, antes que eu pudesse responder, ele mesmo sentenciava, já dispensando toda a idéia:
– Eu ia ir, mas não vou ir mais.
Acrescentei imediatamente o ir ir ao meu rosário pessoal de gírias e falares e uso até hoje, nunca sem nostalgia pelo seu inventor. No que depender de mim, vou ir usando indefinidamente.
Se você se sente incomodado, vá ir ver se eu estou na esquina. Eu devia querer ir ir junto, mas não quero ir ir por enquanto.
Comenta, por e-mail, meu amigão Moisés Cantos:
Péra um minutinho que já VOU INDO!
E aí, neném, belê?
Pois é, a nossa língua tem dessas mesmo. O papa da língua portuguesa, Pascoale Cipro Neto, diz que essa capacidade que a nossa “língua portuguesa brasileira” tem de se adaptar à nova realidade é que a diferencia daquela que é falada na “terrinha” do seu Manoel. É o jeitinho brasileiro atuando em uma área em que a maioria tem mais dificuldades: a língua. Por isso, não se chateie, pois as coisas vão indo desse jeito mesmo.
E aí, neném, belê?
Pois é, a nossa língua tem dessas mesmo. O papa da língua portuguesa, Pascoale Cipro Neto, diz que essa capacidade que a nossa “língua portuguesa brasileira” tem de se adaptar à nova realidade é que a diferencia daquela que é falada na “terrinha” do seu Manoel. É o jeitinho brasileiro atuando em uma área em que a maioria tem mais dificuldades: a língua. Por isso, não se chateie, pois as coisas vão indo desse jeito mesmo.
NOTA: Isso tem tudo a ver com a lei fonética do menor esforço ( A. Martinet). É o que eu digo: a Lingüística exlica tudo... E é ridícula a explicação do Pasquale... TODA língua, sendo ela viva, se adapta... Essa não é uma exclusividade da "nossa língua portuguesa brasileira"...
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