Você sabia... que há duas forças poderosas que impulsionam as mudanças na forma das palavras? São elas a lei do menor esforço (ou lei da economia fisiológica) e a analogia. Essas forças sempre atuaram e continuam atuando nas línguas em geral e na portuguesa, em particular.
Os usuários da língua - os falantes - tendem a pronunciar as palavras da forma mais fácil e para isso retiram ou acrescentam sons com o passar do tempo. Foi assim que o latim legenda transformou-se no português "lenda" e spiritu passou a "espírito".
Esse fenômeno continua a acontecer, como podemos observar em para, que se está transformando em "pra" (na língua falada, há muito tempo e já se começa a ver aqui ou ali na escrita). Da mesma forma, pneu já é "peneu" na fala e sua oficialização na escrita é questão de tempo.
A analogia opera com base em formas regulares, que servem de modelo para outras se modificarem. "Os fatos mais comuns e gerais são os que servem de modelo para os outros; raramente se dá o contrário" e "A princípio, as formas analógicas são tachadas de errôneas pelas pessoas instruídas" (COUTINHO, 1958), mas depois muitas acabam por prevalecer. Assim, verbos como impedir e despedir - que ainda no século XVII eram conjugados no presente do indicativo como "eu impido", "eu despido" -, por analogia com pedir, com o qual nada têm a ver, passaram a "impeço", "despeço", etc. Da mesma forma, o latim stella deveria ter originado a forma portuguesa "estela" (existe uma "estela" - coluna de pedra -, mas que tem outra origem), mas deu "estrela". Esse "r" apareceu por analogia com "astro".
A analogia continua agindo, mais bem observada na linguagem inculta e na das crianças. Quando um pequenino diz fazi em vez de "fiz", está se baseando em outro verbo da mesma conjugação, por exemplo, "correr". Dessa maneira, correr está para corri assim como fazer está para... fazi, claro. O falante inculto usa "ponhar", em vez de "pôr", por analogia com verbos de sonoridade parecida da primeira conjugação, terminados em "ar" (que são a maioria), como "sonhar". Portanto, sonho está para sonhar assim como ponho está para... ponhar.
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