Tenho lido, na imprensa, o grande choro institucional que se instala no Governo Lula pelo fim da CPMF. Seria a CPMF a salvação do Nordeste. A proteção dos pobres. A garantia de que impostos sobre grandes operações financeiras não seriam sonegados. A CPMF incomoda os ricos, por isso foi extinta. A CPMF é o último suspiro do governo Lula. O fim da CPMF, conclui o Governo com ar de inevitabilidade, leva fatalmente ao aumento dos impostos vários que já temos sobre nós e à criação de tantos outros. É claro que o Governo não falou que, já que a CPMF acabou, seria agora o momento oportuno para a criação do tão esperado imposto sobre heranças e grandes fortunas. Não, de jeito nenhum. Quem mais uma vez é prejudicada é a classe média.
Quanto à ajuda aos pobres, essa se dá não em mudanças estruturais, como investimento em tratamento de esgoto, água encanada e potável, escolas decentes e sobretudo saúde de boa qualidade - que foi com este pretexto, o de ajudar a melhorar a saúde, que a CPMF foi criada - mas resume-se ao mais assombroso e tacanho assistencialismo, que garantiria a reeleição e a manutenção do PT no poder.
Ressalto, e que fique claro, que o PSDB no poder não representa nenhuma melhoria, nenhuma diferença qualitativa. O PFL-PDS-Arena, então travestido de DEM, menos ainda. São partidos oportunistas, que sempre sugaram do povo brasileiro seus bens e patrimônio, suas reservas, o fruto de seu trabalho na forma de impostos, a fim de satisfazer os interesses dos países ricos, como os EUA, e dos banqueiros e donos de empresas. Sem se falar na corrupção, no roubo, na locupletação, na pilhagem, no desvio de verbas, na falsidade ideológica e no enriquecimento ilícito desses homens engravatados e mulheres de tailleur Chanel que "exigem" respeito, que se arrogam serem "autoridades" mas não valem o chão onde se cospe.
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Por conta disso tudo, o Brasil não "vai pra frente". Por isso o Brasil é o país de um futuro que se mostra, como presente, abjeto, repleto de políticos corruptos, interesseiros, indignos, medonhos em seus discursos flagrantemente contrários ao que se observa, como se fôssemos todos pouco atentos, prontos a engolir qualquer história da Carochinha. Políticos coniventes com a fraude, o estelionato, a imoralidade, a desonra do que se poderia chamar de "pátria", "instituições democráticas", "democracia", fachadas para um grande mercado onde o mais importante não é a vida, não é o ser humano. É o dinheiro e os que dele são donos.
Nada mais exemplar, em termos de fraude política, que o caso da transposição do Rio São Francisco. A quem ela servirá? Vejamos os dados, vejamos o que dizem os Relatórios de Impacto Ambiental, os Estudos. Não, não somos todos estúpidos, ainda que uma vez ou outra, na vida, se cometa estupidez em nome do que se crê justo, honesto e digno. Vejam, durante anos eu votei no PT. Não vi que estava alimentando um monstro, encabeçado por uma cúpula que sempre liderou o PT de forma manipuladora e criminosa, a ala chamada "Articulação". Mas não votei em Lula para isso. Não votei em Lula para ver se desenrolar diante de mim o mensalão. Para ter o desgosto de assistir, pela TV, o absurdo ridículo de dólares escondidos em cueca de assessor do PT. Não votei no PT para ver a Ângela Guadagnin dançando grotescamente em comemoração à impunidade. Não votei no PT para vê-lo aliar-se ao que há de mais retrógrado e imundo na política nacional. Para vê-lo defender o indefensável. Não assinei um cheque em branco, não dei a ele uma procuração com poderes ilimitados. O que ele administra é meu, é seu, é do povo. E ele nos deve satisfações; o presidente deve consultar o povo a respeito de suas decisões mais significativas. Mas o povo, como o marido traído, é sempre o último a saber dos conchavos, da alianças espúrias, do toma-lá-dá-cá, dos objetivos sujos por trás de belos discursos.
Caso o governo Lula estivesse realmente interessado em ajudar os pobres, começaria exigindo uma auditoria da dívida e(x)terna. Depois, baixaria a percentagem do "superávit primário" - nome pomposo que inventaram para a reserva mensal de quase 4% do PIB que é enviada aos grandes bancos estrangeiros e ao FMI, a fim de pagar os juros da dívida e(x)terna. Na melhor das hipóteses, o governo cancelaria o "superávit primário" e reverteria esse dinheiro, de valor bem superior ao que se arrecada ainda com a CPMF, para a construção de casas populares, o saneamento básico, a manutenção, modernização dos hospitais e a construção de novos centros de saúde, novas escolas e universidades, bem como a melhor remuneração de funcionários da saúde e da educação, a contratação de mais profissionais que serviriam a esse povo pobre que o governo usa mais uma vez para chantagear emocionalmente a opinião pública e fazer com que novamente arquemos com o ônus do descompromisso petista para com o povo pobre do Brasil.
Por fim, lembro que a CPMF foi criada oportunisticamente pelo PSDB em caráter provisório. Lembro que do dinheiro arrecadado, pouco era realmente destinado à saúde. Lembro os inúmeros casos de corupção no Ministério da Saúde - vampiros, ambulâncias, convênios... E, por fim, lembro que o próprio PT votou contra a criação da CPMF, no Congresso. E, na época, eu como filiada ao PT, tive orgulho da agremiação político-partidária da qual fazia parte, pois via na CPMF o que ela sempre foi: uma ajuda ao caixa dois para as futuras eleições, uma ajuda às políticas assistencialistas do(s) Governo(s), o que garante os votos da maioria pobre brasileira. Via na CPMF uma sobretaxação vil sobre nossos salários, tendo em vista já os incontáveis impostos que pagamos todos e o quase nada revertido em prol da sociedade. Temos péssimas estradas, péssimos hospitais públicos, péssimas escolas públicas, universidades públicas que carecem de investimento, transporte público pago de má qualidade nas cidades, um sistema carcerário miserável, segurança pública zero e mais tantas mazelas.
Portanto, eu aprovo o fim da CPMF. E sugiro ao Lula que ele reveja a reserva do "superávit primário", já que ama com tanta piedade os menos favorecidos, mas que não explore mais ainda o povo brasileiro da classe média e pobre, sob o pretexto de ajudar os miseráveis. Por fim - e isto não é diretamente ligado ao fim da CPMF, mas à hipocrisia e ao oportunismo deste governo - declaro meu apoio à greve de fome de D. Luis Flávio Cappio, que é contra a política de elite que norteia a transposição do Rio São Francisco. Estou orando por D. Cappio, e peço a Deus que o sustente em sua luta solitária e corajosa.
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Mayalu Felix
São Luis, 16/12/2007.
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EM 2008 E 2010, NÃO VOTE NO PT.
4 comentários:
Parabéns Maya!
Esse foi um dos melhores textos que li em seu blog.
Que bom saber que apoia D.Cappio e ora por ele!
Muitas qualidades! É isso que vejo em você Mayalu Felix.
Oi Maya!
Existem duas maneiras de se ver a CPMF:
1) De forma nacional:
O feitiço virou contra o feiticeiro! A sociologia de Durkheim tão amplamente usada pelos Governos FHC e Lula (se vira com o que você tem) agora também será usada em seu governo.
2) De forma global:
Esse tipo de imposto provavelmente será utilizado pela a ONU na tentativa de salvar a “mamãe natureza” da destruição.
Abraços...
Oi Maya:
O Dinheiro da CPMF que não vamos mais pagar vai ajudar um pouco. Quanto ao governo lula se vire com o que tem, que alias é muito.
As vezes penso: Será que algum dia os governantes possam criar um imposto global como a CPMF mas com outros objetivos como: Proteger a “mamãe natureza”, ajudar os flagelados da guerra,ou de desastres naturais e ainda alimentar os famintos. Isso tudo parece muito bom ...Mas se eles exigirem um marca na fronte da testa ou da mão (a saber uma estrela com 9 pontas) para esse fim?
Escatologista é assim mesmo...Sempre pensando em coisas futuras.
Abraços!!!
Oi, Roberto! Obrigada.
Ailton, precisaria estudar mais para entender tudo o que você fala, sobretudo em relação à ONU e à defesa do ecossistema. Mas te agradeço por comentar aqui.
Um abraço,
Maya
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