Creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais simpático, de mais viril e de mais perfeito do que o Cristo; e eu digo a mim mesmo, com um amor cioso, que não existe e não pode existir. Mais do que isto: se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se acha n'Ele, prefiro ficar com o Cristo a ficar com a verdade. (Dostoievski)

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3 de mai. de 2008

a proibição extrai seu poder

A proibição extrai seu poder impulsionador de dois fatores dramáticos opostos. Em primeiro lugar, a transgressão deve ter conseqüências impensáveis; seus efeitos devem ser abrangentes e devastadores, primeiro para o transgressor e seu círculo, mas também para o restante do universo (qualquer que seja na história o tamanho do universo; cada narrativa tem o seu). O fogo deve permanecer para sempre de uso exclusivo dos deuses, caso contrário os mortais serão beneficiados (ou amaldiçoados) com a consciência e a civilização; a caixa de Pandora não deve ser aberta, caso contrário os males da humanidade escaparão do seu confinamento e contaminarão irremediavelmente a terra; Adão não deve comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, pois no dia em que o fizer acabará conhecendo a morte. O enunciado da proibição deixa claro que ela existe por uma razão fundamental, que absolutamente não pode ser tomada levianamente; ignorar a advertência é estar pronto a alterar a tessitura mais fundamental das coisas.
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Apesar de ter conseqüências inconcebíveis, a transgressão em si, o ato direto da violação, deve permanecer todo o tempo no terreno das coisas concebíveis. A violação deve ser de tal natureza que possa ser executada por qualquer agente suficientemente motivado, enganado ou distraído: um titã tem acesso tanto a homens quanto a deuses, pelo que pode levar o fogo proibido de um a outro; Pandora é uma mulher curiosa, pelo que pode a qualquer momento decidir a caixa que está em seu poder; a árvore é atraente, e qualquer um pode tentar convencer Adão a estender a mão para tocá-la.
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Conseqüências inconcebíveis, violação concebível. Dito de outra forma, a proibição une os domínios do último e do penúltimo, do finito e do infinito, do natural e do sobrenatural.

A vertigem, naturalmente, é que uma coisa de resultados tão terríveis e momentosos não seja inerentemente proibida no mecanismo do cosmos; o assombroso é que a violação esteja ao alcance de qualquer um ou pelo menos de alguém.

O messias judeu Sabbatai Sevi (que mais tarde apostataria para o islamismo) percebeu e passou a celebrar, à sua maneira, a extensão deste mistério. Em junho de 1665 Sabbatai Sevi reuniu os seus discípulos em Jerusalém e convidou-os a instituirem um sacramento de trangressão, no qual violariam solenemente um dos mandamentos da Torá. Naquela tarde Sevi e seus discípulos fizeram o que voltariam a fazer juntos inúmeras vezes: comeram o heleb, a gordura do fígado – uma das 36 transgressões para as quais a Torá prescreve a eliminação do transgressor.

A benção que o messias pronunciou antes da ceia, a benção que não tem como não ser a mais antiga de todas:

– Bendito seja Deus, que permite o proibido.

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Texto de Paulo Brabo, postado no site A Bacia das Almas.

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