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Apesar de ter conseqüências inconcebíveis, a transgressão em si, o ato direto da violação, deve permanecer todo o tempo no terreno das coisas concebíveis. A violação deve ser de tal natureza que possa ser executada por qualquer agente suficientemente motivado, enganado ou distraído: um titã tem acesso tanto a homens quanto a deuses, pelo que pode levar o fogo proibido de um a outro; Pandora é uma mulher curiosa, pelo que pode a qualquer momento decidir a caixa que está em seu poder; a árvore é atraente, e qualquer um pode tentar convencer Adão a estender a mão para tocá-la.
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Conseqüências inconcebíveis, violação concebível. Dito de outra forma, a proibição une os domínios do último e do penúltimo, do finito e do infinito, do natural e do sobrenatural.
A vertigem, naturalmente, é que uma coisa de resultados tão terríveis e momentosos não seja inerentemente proibida no mecanismo do cosmos; o assombroso é que a violação esteja ao alcance de qualquer um ou pelo menos de alguém.
O messias judeu Sabbatai Sevi (que mais tarde apostataria para o islamismo) percebeu e passou a celebrar, à sua maneira, a extensão deste mistério. Em junho de 1665 Sabbatai Sevi reuniu os seus discípulos em Jerusalém e convidou-os a instituirem um sacramento de trangressão, no qual violariam solenemente um dos mandamentos da Torá. Naquela tarde Sevi e seus discípulos fizeram o que voltariam a fazer juntos inúmeras vezes: comeram o heleb, a gordura do fígado – uma das 36 transgressões para as quais a Torá prescreve a eliminação do transgressor.
A benção que o messias pronunciou antes da ceia, a benção que não tem como não ser a mais antiga de todas:
– Bendito seja Deus, que permite o proibido.
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