Sou cristã porque vejo, na vinda de Jesus em carne, em toda a humilhação que sofreu, em sua entrega, voluntária, ao sacrifício, em sua simplicidade e humildade, algo que não consigo ver em nenhuma outra teogonia, em nenhuma outra concepção teológica, nem no Deus proclamado pelos judeus, nem no profeta dos muçulmanos, nem nos deuses hindus e em todos as demais concepções politeístas, nem no budismo, nem no espiritismo: a mais profunda identificação com o ser humano, com seus dramas, sentimentos, contradições, alegrias, satisfações, angústias.
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Essa aproximação, iniciativa de Deus para chegar à humanidade, é pessoal e coletiva, mas talvez por ser primeiramente pessoal e íntima, dada de modo irrestrito, profundo e de graça, é que o Cristo seja tão singular em meio a divindades, concepções filosóficas, teorias. O Deus Cristo é um humano, também. Sentiu dores humanas, tinha hábitos humanos. Nunca percebi tanta proximidade e identificação com a beleza e a miséria humanas em outras visões espirituais.
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Isso é algo sublime. É nobre, porque Deus se coloca humildemente a serviço do homem. Ele é também o maior servo, exatamente porque é Deus. Só Deus saberia e poderia ser o servo perfeito. Um deus todo-poderoso que não se desse o serviço por amor seria um tirano, um algoz, um ditador. Mas Ele não se impõe, não humilha, não se sobrepõe - apesar de ser todo-poderoso. Jesus deu sua vida, a ofereceu, e não cobrou nem cobra nada por isso: a quem se aproxima, com sede, há amor em abundância. Não há contrapartida, não há troca, não há mercado nem paga. Àqueles que a Ele se submetem, por vontade própria, Deus os faz mais e mais livres. O que parece ser paradoxo e contradição é o que faz com que quem a Ele se sujeite deseje profundamente a mais completa obediência e submissão, de modo progressivo e incondicional, sem jamais abdicar de sua identidade, de sua condição humana, de sua personalidade. Deus dá ao homem a possibilidade de escolha, em todas as situações. É pela liberdade que Ele nos oferece que nós o conhecemos.
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Para se fazer conhecer do homem, Deus então se despe, se despoja de sua grandeza, de sua majestade, e vem em corpo humano com todas as mazelas dessa existência carnal: o envelhecimento, a sede, a fome, o sono...
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Exatamente por se deixar conhecer de modo tão vulnerável, sem honras nem brilhos, como homem, é que o Cristo é o que há de mais nobre, de mais perfeito, magnífico, eterno, atemporal, puro, amoroso, honesto, sincero e digno. Por isso, também, sou cristã.
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Mayalu Felix
Niterói, 26/05/2008
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