Sou cristã porque tenho uma idéia de minha limitação frente a tudo - à vida, a mim mesma, aos outros. Se acreditasse que por mim mesma, por minhas atitudes e forças pudesse lograr qualquer coisa em minha vida, seria adepta de outra religião. O que não faltam são caminhos que indicam um esforço próprio para se atingir a salvação, o equilíbrio, a paz. Pela caridade, ou pela meditação, ou por algum outro sacrifício pessoal ou material é que se chega à recompensa, é isso que nos ensinam os preceitos espíritas, budistas, islâmicos, judeus... No cristianismo, o sacrifício não é meu, e nem poderia ser, tendo em vista a limitação desta existência, a condição humana de falibilidade e a impossibilidade de se atingir, por regras ou atitudes pontuais, a graça divina.
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Ora, graça é graça, não pode ser paga, é favor imerecido. Não vi, ainda, em que outra concepção teológica a noção de graça seria mais profunda e ontológica que no cristianismo. É graça a existência, é graça a salvação, é graça qualquer bênção. Esse deslocamento do "fazer", do homem para Deus, resitui a Deus o que só Ele pode de fato realizar, que é a completa restauração espiritual humana.
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Mas o reconhecimento da incapacidade e da limitação da humanidade é ao mesmo tempo uma vitória, pois nessa idéia está, subjacente, o pressuposto de que o homem não precisa se provar nada, nem a si mesmo nem a Deus. De que seus esforços devem redundar no descanso, na alegria, no amor, na verdade - em Deus, jamais fora dele, pois fora dele nada há.
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Mayalu Felix
Niterói, 18/05/2008
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