O cristão, o que segue a Cristo, o que tem nele o exemplo maior, aquele que lê a Palavra e se identifica com o Cristo acusado, julgado, condenado e assassinado, tem que se identificar também com toda a injustiça, com os abusos que os poderosos cometem contra milhões de pessoas, feitas à imagem e semelhança de Deus, todos os dias, em todo o mundo. Nosso próximo não é só o vizinho de porta, é todo o que, como nós, tem fôlego de vida. É próximo porque é parecido, é semelhante, é um de nós. Tem olhos, coração, estômago, sentimentos - como cada um de nós.
.Não acredito que alguém proclame Cristo como o Caminho mas não se indigne com as injustiças, com as desigualdades sociais, construídas pelo amor ao dinheiro e pela indiferença ao ser humano, à vida. Não acredito que alguém agradeça a Deus por ter comida no prato todos os dias sem se lembrar de que naquele exato momento alguém morre de fome, neste planeta que produz o suficiente para que todos vivam com dignidade. Não acredito que alguém vá à Igreja todos os domingos, cante, ouça a predicação do pastor, leia a Bíblia mas não se mova nem um metro para ajudar o que está caído, na calçada, precisando de remédios, de um prato de comida, de um agasalho. Não acredito que alguém encha o peito de orgulho por ser cristão, vista camisetas com frases e motivos evangélicos, cole no carro adesivos proclamando o poder de Deus mas não tenha vergonha de ver como a maioria das igrejas cristãs está longe da prática da Justiça, do Amor, da Verdade e da busca pela Vida no cotidiano da família, da vida profissional, social, política, como cidadãos que todos somos.
.Cada um que morre de modo trágico, injusto, violento, obscuro, é aquele próximo que Jesus mandou amar como cada um ama a si mesmo. Cada um que está na prisão, vivendo em condições desumanas, é aquele que os cristãos deveriam visitar. Os que sofrem nos hospitais são os doentes que não fomos ver. Os que morrem de fome e de sede são os famintos, os sedentos a quem não damos nada, nem um pouco de nosso tempo, nem nossos recursos, nem nossa indignação.
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Muitos cristãos acreditam que basta dar uma esmola e os profundos e complexos problemas sociais, que envolvem um sistema político e econômico injusto e corrupto, estão resolvidos. A esmola é, de fato, o analgésico para as pesadas e doloridas consciências dos religiosos de hoje. Não fazem nada eficaz, mas tentam amortecer o sentimento de injustiça que de nós se apodera a cada denúncia, notícia, escândalo.
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Não é possível que em um país como o Brasil, que tem uma carga tributária injusta e absurda, o cristão não olhe para as autoridades, para esses que lidam com o dinheiro de todos, e não os chame de hipócritas. Não é possível que as questões morais, como as ligadas ao aborto, ao uso de drogas e ao homossexualismo, encontrem espaço na agenda das igrejas cristãs mas outras questões gravíssimas, como a criminalização dos pobres e negros, o baixíssimo salário mínimo, a desigualdade econômico-social, a falência do sistema público de educação e saúde e a corrupção não façam os pastores, bispos e diáconos tremer de indignação.
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Não é possível que os cristãos permaneçam em estado de contemplação, de olhos fechados, e não vejam o mal que está em volta de nós, nos crimes diários cometidos por homens ricos e bem vestidos. Não nos levantamos contra esses, mas nos voltamos contra o pobre esfarrapado com muita facilidade. Não é possível que o cristão, co-herdeiro de Cristo, não se envergonhe por se conformar com este mundo, com a injustiça, com a desigualdade, com o triunfo dos fortes e o desamparo dos pobres.
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Também nos países ricos, acima da linha do Equador, não é possível que os cristãos continuem a achar normal que milhares de seres humanos desesperados deixem sua terra natal todos os dias para não morrer com a miséria e encontrem as portas da riqueza fechadas e a negação da divisão dos bens que a humanidade produz para que a injustiça seja desarraigada da Terra.
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O Deus da Vida nos chama para fazer mais que lamentar. Ele quer de nós mais que um olhar de pena, mais que um real de esmola, mais que algumas roupas doadas às favelas, aos sem-teto, aos sem-terra, aos sem-saúde, aos sem-educação, aos sem-direitos.
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O Deus da Vida quer que nós sejamos luz e sal não somente porque não bebemos ou não fumamos, nem porque não falamos palavrão, porque não usamos roupas indecorosas, porque não cortamos os cabelos e temos tantos outros hábitos que fazem de muitos de nós um sepulcro caiado. Deus quer que seus filhos sejam profetas, que se indignem com a mentira, que tenham a coragem de ir diante dos juízes, dos governadores, dos presidentes e de todos os reis de nosso tempo e digam a eles o que Amós, Isaías ou Ezequiel diriam.
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Não é possível que hoje não haja mais, entre os cristãos, entre os que se dizem filhos de Deus, alguns que possam denunciar a ganância e a estupidez dos ricos e poderosos, como fez o profeta Amós:
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Ouvi esta palavra, vacas de Basã, que estais no monte de Samaria, que oprimis os pobres, que quebrantais os necessitados, que dizeis a seus senhores: Dai cá, e bebamos. Jurou o Senhor Jeová, pela sua santidade, que dias estão para vir sobre vós, em que vos levarão com anzóis e a vossos descendentes com anzóis de pesca. (Amós 4, 1-2; Bíblia Sagrada)
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Mayalu Felix
Niterói, 29/05/2008
2 comentários:
Graça e paz, eu tomei a liberdade de colocar seu blog no meu, espero que aprove e se possível adiciona-se o meu blog no seu o titulo é: À Palavra e o link http://pastorzico.blogspot.com/
Obrigado por tudo Deus abençoe.
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