Já se foi o tempo em que o velho Brizola clamava: "O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!" Brizola morreu, mas a Globo continua. Continua manipulando, é claro. Minha dúvida é se o povo agora é bobo e não percebe a condução político-ideológica dos programas da emissora.
Fora as edições maldosas relativas aos conflitos entre grandes empresas x MST, ou grandes fazendeiros x garimpeiros, ou ainda entre grandes empreiteiras x índios, nesta ordem ou em combinações múltiplas de tal forma que os ricos sempre estão em conflito com os pobres, e aqueles são sempre vítimas destes, hoje me chamou a atenção a edição de uma reportagem sobre a Marcha para Jesus feita pelo Jornal Nacional.
Nada de novo, a Globo continua achincalhando os evangélicos, mas se eu não soubesse que se trata do Jornal Nacional, ou "Jornal dos Simpsons", como o William Bonner já ressaltou, pensaria que os mais de três milhões de participantes da Marcha são uns completos idiotas. Por outro lado, vendo em seguida a boa edição dos preparativos para a festa do Corpus Christi celebrada pela Igreja Católica no Brasil, pensaria eu na evidente superioridade espiritual dos católicos - espiritual, moral e jurídica, pois o Papa nunca foi preso nos EUA.
É claro, se a Globo deveria ressaltar algo na festa evangélica teria de ser a prisão dos Hernandez. Independentemente de o casal estar detido por uma série de complicações jurídicas, motivadas por uma sede de poder que, diga-se de passagem, ninguém na Rede Globo tem, eu me pergunto por que, em cada reportagem sobre a Igreja Romana, a Globo não fala dos inúmeros casos de pedofilia, adultério e homossexualismo no seio da própria Igreja.
Não vou aqui atacar a Igreja Católica - na verdade, tudo o que se faz no meio evangélico - e olha que no meio evangélico há muita desonestidade, sim - é ainda fichinha para a poderosa Santa Madre, que está no negócio há quase dois mil anos. Fraude? Falcatruas financeiras? Ora, o Vaticano mesmo foi palco de muitos, inúmeros negócios financeiros escusos - desde sua criação, envolvendo Benito Mussolini, passando pelo papa Pio XI, pelo bispo Paul Marcinkus, pelo papa Paulo VI e por tantos outros, em suas operações no famoso IOR ou no não menos famoso Banco Ambrosiano. Desses, é claro, a Rede Globo não fala absolutamente nada.
Focalizando, na reportagem sobre "o evento dos evangélicos", mais a prisão dos Hernandez que os motivos da Marcha, a Globo nem sequer revelou o número estimado de participantes da comemoração, o que o noticiário da Rede TV! faria, logo depois: aproximadamente quatro milhões de pessoas.
Longe de mim apoiar as ações do casal da Igreja Renascer, mas a reportagem da Globo fez parecer que a Marcha para Jesus de 2008 era um pretexto - nada mais - para apoiar os dois, o que não é verdade. A emissora também não revelou, propositalmente, que outras denominações evangélicas compareceram à Marcha.
A Globo também não informou que a Marcha para Jesus é um evento que nasceu na Inglaterra, nos anos 80, e que ocorre em diversos países, entre os quais a França, Portugal e a Argentina, além da Inglaterra, de países africanos e onde mais houver liberdade de culto para os cristãos.
A edição de imagens, as entrevistas, o texto em off, tudo foi cuidadosamente montado pelo Jornal Nacional na reportagem sobre a Marcha para Jesus de 2008 para que a mensagem fosse manipulada, deturpada, dirigida, a fim de que a opinião dos telespectadores atendesse aos interesses comerciais da emissora carioca.
Não há, na Globo, nenhum comprometimento com a ética, a veracidade de fatos, mínima que seja. O que há, de acordo com os interesses da TV, é a versão dos fatos que mais satisfaz à política "global". Não à toa, em outro bloco, o mesmo Jornal Nacional diria que a Parada do Orgulho Gay de São Paulo, considerada a maior do mundo e que acontecerá neste próximo dia 26 de maio, domingo, é um evento "da família" - e todos sabem, quem já foi ou já ouviu falar de qualquer aspecto da Parada, que de "família" ela tem muito pouco.
A "Vênus Platinada" mostra a que vem, todas as noites, ao invadir as casas dos brasileiros: manipular a opinião pública. Quem não se lembra da famosa edição do debate entre Lula - hoje presidente da República - e Collor, que se elegeu com o apoio da família de Roberto Marinho? Todos devem se lembrar também das "denúncias" de Miriam Cordeiro. Ninguém lembra é que a Globo é uma concessão pública do Governo Federal. E que o Governo Federal é sustentado pelo povo, e existe para servir o povo. Na teoria, é claro.
Tratar os evangélicos como idiotas não é novidade, visto que são considerados adversários, opositores não só da Globo, por meio da emissora da Igreja Universal, a Record, mas também da Igreja Católica Romana, que mantém com a emissora negócios muito lucrativos.
Poderia aproveitar e tecer aqui análises mais aprofundadas sobre a edição das imagens e o discurso opaco e oportunista do jornalismo global, mas não, que este é só um desabafo. Que falta nos faz, nessas horas, o velho e sábio Brizola, que nunca - nunca - deixou de denunciar o cinismo da emissora dos Marinho, que continua a mesma, diga-se de passagem.
***
Mayalu Felix
Niterói, 20/05/2008.
3 comentários:
Concordo com você, Maya. Fiz a mesma leitura a assistir ao JN. Eles assopram e depois mordem.
Muito bom seu artigo Maya. A Globo já foi criada com polêmicas. Teve altos investimentos do Grupo Time-Life (americano) no seu início. O filme sobre ela feita pelo canal britânico Channel Four (que no Brasil é chamado de Muito Além do Cidadão Kane) nunca pode ser exibido por aqui, a não em vídeos no youtube. E o Brizola realmente comprava a briga com a Globo. Sobre o tratamento que ela dá aos evangélicos, é simplismente irritante ver a parcialidade que é dado nas matérias. Ora, ignora como se não existissem, mostrando eventos religiosos (não evangélicos) de 10 mil pessoas, enquanto há eventos de 100 mil evangélicos e não é mostrado.
Parabéns,
Pr. Juber Donizete Gonçalves
www.juberdonizete.blogspot.com/
Pois é, mas isso a Globo faz com qualquer grupo social que a desagrada. O MST nunca foi mostrado de modo positivo, por exemplo.
Mas é verdade que a reportagem de ontem, no Jornal Nacional, sobre a Marcha para Jesus, me deixou perplexa.
Postar um comentário