Simone de Beauvoir, filósofa e feminista francesa
Os livros registram a ação de homens ilustres ou canalhas; uns construíram mais, outros destruíram. Mas poucas mulheres surgem como personagens centrais de grandes conquistas. A sociedade sempre foi dos homens, e foram eles que conduziram e moldaram a história humana. Os homens têm mais massa muscular que as mulheres, e a essa supremacia física devem a origem e a manutenção de sua hegemonia. O mundo que conhecemos é visto sob uma ótica masculinizada: dominação, força, conquista. A fragilidade não é admitida, e deve ser sempre dominada. Os interesses dos mais fortes subjugam os interesse dos mais fracos, ainda que estes sejam maioria.
Logo que a sociedade-força física passou a perder espaço para a sociedade-inteligência, a condição feminina foi colocada em discussão, e assistimos hoje a uma redefinição de papéis: as mulheres passam a ocupar postos antes inacessíveis. Os homens já não subjugam tanto as mulheres como antes. Temos aqui mesmo no Maranhão uma governadora, e não um governador. Também uma mulher foi eleita para administrar a maior cidade da América Latina, São Paulo. Mulheres que divergem ideologicamente, mas que têm em comum o gênero.
Mas o ponto crucial dessas mudanças é entender de que modo a sensibilidade e a inteligência aguda da mulher poderiam colaborar para melhorar a gestão de negócios importantes, sejam eles públicos ou privados. Como fazer com que o gênero oprimido, usando sua sensibilidade, coragem e firmeza, grave sua própria visão de mundo no poder, afim de beneficiar os que são também oprimidos. Porque uma mulher pode estar no poder garantindo que a sociedade continue o que ela sempre foi. É preciso mudar. Talvez esse seja o grande desafio das mulheres. É necessário feminilizar o poder, torna-lo mais sensível, mais democrático, mais atento aos que não têm nem vez nem voz.
É fato, e justiça seja feita, assim como há homens e homens, existem mulheres e mulheres. Erro seria não estar atento à diferença, cara leitora, caro leitor. Resta saber se a mulher que pleiteia o poder, ou a que já está nele, serve a uma visão masculinizada ou a uma perspectiva feminilizada do poder. O poder que oprime, bate, agride e subjuga sempre esteve aí, cheio de testosterona. Há mulheres que o corroboram. Agora queremos um poder novo, atento aos que não podem, aos que não têm, aos que são preteridos em virtude do mais forte, do mais rico, do que tem a força. Essa visão de poder é feminina. Há mulheres que a apóiam. Cabe à sociedade saber quem são.
Mayalu Felix, escritora.
Artigo publicado originalmente no jornal O Imparcial (Associados, MA), em 08/03/2001, Opinião, p. 12.
Os livros registram a ação de homens ilustres ou canalhas; uns construíram mais, outros destruíram. Mas poucas mulheres surgem como personagens centrais de grandes conquistas. A sociedade sempre foi dos homens, e foram eles que conduziram e moldaram a história humana. Os homens têm mais massa muscular que as mulheres, e a essa supremacia física devem a origem e a manutenção de sua hegemonia. O mundo que conhecemos é visto sob uma ótica masculinizada: dominação, força, conquista. A fragilidade não é admitida, e deve ser sempre dominada. Os interesses dos mais fortes subjugam os interesse dos mais fracos, ainda que estes sejam maioria.
Logo que a sociedade-força física passou a perder espaço para a sociedade-inteligência, a condição feminina foi colocada em discussão, e assistimos hoje a uma redefinição de papéis: as mulheres passam a ocupar postos antes inacessíveis. Os homens já não subjugam tanto as mulheres como antes. Temos aqui mesmo no Maranhão uma governadora, e não um governador. Também uma mulher foi eleita para administrar a maior cidade da América Latina, São Paulo. Mulheres que divergem ideologicamente, mas que têm em comum o gênero.
Mas o ponto crucial dessas mudanças é entender de que modo a sensibilidade e a inteligência aguda da mulher poderiam colaborar para melhorar a gestão de negócios importantes, sejam eles públicos ou privados. Como fazer com que o gênero oprimido, usando sua sensibilidade, coragem e firmeza, grave sua própria visão de mundo no poder, afim de beneficiar os que são também oprimidos. Porque uma mulher pode estar no poder garantindo que a sociedade continue o que ela sempre foi. É preciso mudar. Talvez esse seja o grande desafio das mulheres. É necessário feminilizar o poder, torna-lo mais sensível, mais democrático, mais atento aos que não têm nem vez nem voz.
É fato, e justiça seja feita, assim como há homens e homens, existem mulheres e mulheres. Erro seria não estar atento à diferença, cara leitora, caro leitor. Resta saber se a mulher que pleiteia o poder, ou a que já está nele, serve a uma visão masculinizada ou a uma perspectiva feminilizada do poder. O poder que oprime, bate, agride e subjuga sempre esteve aí, cheio de testosterona. Há mulheres que o corroboram. Agora queremos um poder novo, atento aos que não podem, aos que não têm, aos que são preteridos em virtude do mais forte, do mais rico, do que tem a força. Essa visão de poder é feminina. Há mulheres que a apóiam. Cabe à sociedade saber quem são.
Mayalu Felix, escritora.
Artigo publicado originalmente no jornal O Imparcial (Associados, MA), em 08/03/2001, Opinião, p. 12.
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