Renato Pompeu
O internacionalismo proletário sempre foi mais um valor moral do que uma realidade efetiva. Os nacionalismos, por meio do protecionismo do mercado nacional e do próprio mercado de mão-de-obra, sempre predominaram: a Primeira Associação Internacional de Trabalhadores foi dissolvida por inviável, no século 19; a Segunda Internacional ainda existe, mas é inoperante desde que não conseguiu evitar a Primeira Guerra Mundial, com seus membros esquecendo o internacionalismo para aderir ao morticínio patrioteiro; a Terceira Internacional foi um instrumento do Estado soviético e foi dissolvida durante a Segunda Guerra Mundial -- e as várias Quartas Internacionais nunca passaram de projetos.
Até agora, a Confederação Sindical Internacional, fundada em setembro último, nominalmente integrada por trezentas confederações nacionais de todo o mundo, com 190 milhões de membros, não disse a que veio. Os integrantes de base da CUT e da Força Sindical, por exemplo, nem sequer sabem que pertencem a um agrupamento globalizado que tem por objetivo defender os interesses dos trabalhadores do mundo inteiro. Os primeiros documentos da CSI falam em termos vagos sobre a ofensiva mundial do capital globalizado e condenam as atuações do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial e da Organização Mundial do Comércio, sem apresentar alternativas. Marcaram uma Jornada Mundial de Ação, sem indicar data nem objetivos de luta e sem mencionar o 1º de Maio que se aproxima.
Em suma, por enquanto a CSI é estranhamente uma carcaça burocrática de algo que ainda não nasceu. Mais atuante promete ser o chamado Sindicato Supranacional, formado em dezembro passado, e que engloba a Amicus, principal confederação de trabalhadores do setor privado na Grã-Bretanha, a IG Metall, o poderoso sindicato dos metalúrgicos da Alemanha, e a United Machinists dos EUA. O objetivo é impedir que as multinacionais joguem esses trabalhadores uns contra os outros, e apresentar-se diante das grandes empresas como uma frente única.
Mas esse Sindicato Supranacional vai com toda a certeza defender os interesses específicos dos trabalhadores de seus países adiantados, mesmo que choquem com os interesses dos trabalhadores dos países atrasados. Por exemplo, os trabalhadores dos países adiantados podem não ter interesse no aumento do valor dos produtos exportados pelos países atrasados, aumento que permitiria majorar os salários destes últimos, enquanto diminuiria o poder de compra dos salários dos trabalhadores dos países avançados.
Em suma, paradoxalmente, em termos de globalização, os trabalhadores não conseguem agir globalmente, e nem se interessam por isso.
Renato Pompeu é jornalista e escritor, autor do romance-ensaio O Mundo como Obra de Arte Criada pelo Brasil, a ser lançado pela Editora Casa Amarela. renatopompeu@carosamigos.com.br
Texto extraído da revista Caros Amigos, ano X, nº 119, fevereiro/2007, p. 19.
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