Creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais simpático, de mais viril e de mais perfeito do que o Cristo; e eu digo a mim mesmo, com um amor cioso, que não existe e não pode existir. Mais do que isto: se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se acha n'Ele, prefiro ficar com o Cristo a ficar com a verdade. (Dostoievski)

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30 de nov. de 2008

nelson rodrigues não é unanimidade. ainda bem.


NELSON RODRIGUES É O REFÚGIO DOS IDIOTAS

Na verdade, segundo Nelson, os idiotas se refugiavam na gramática. Ele também dizia que toda unanimidade era burra (pela atemporalidade da máxima – ainda que inócua –, presume-se que talvez valha até os dias de hoje). Nelson falava em obviedades que ululavam e em sobrenaturais com sobrenomes normais.


As pessoas citam Nelson Rodrigues como fazem em relação aos provérbios. Dão àquilo que tem graça por sua poesia um valor matemático, axiomático, irrecorrível. É como quem leva a sério a brincadeira de que toda regra tem sua exceção, exceto essa regra que, por sinal, é exceção da regra anterior, blablablá.

As pessoas comem Nelson Rodrigues. Engolem de uma vez, sem mastigar. As pessoas o bebem mal sentindo o gosto, como os adolescentes que tomam a enésima cerveja carnavalesca servida em copo de plástico. É a literatura-provérbio, a prosa-adágio, uma obra destinada a pôr termo em discussões de boteco por meio de frases de efeito. É a literatura-palavra-de-ordem.

As pessoas arrotam Nelson Rodrigues. As pessoas cagam Nelson Rodrigues. As pessoas o vomitam, ovulam, ejaculam, deixam-no escorrer pelo nariz e ouvidos e o fazem escapar pelas feridas. As pessoas imitam Nelson Rodrigues no que tem de pior, mesmo sabendo que o pior é o pior, talvez porque também sejam cientes de que esse é o ponto máximo a que conseguem chegar.

As pessoas ainda não se deram conta de que se criou uma unanimidade em torno da obra de Nelson Rodrigues, dando uma ironia ainda maior à frase mais famosa do cronista, do teatrólogo, do comentarista esportivo e do apreciador compulsivo-compulsório de leite. O conservador que falava de sexo.

As pessoas da esquerda, que não gostavam de Nelson Rodrigues, na verdade, nunca chegaram a lê-lo ou, se o fizeram, não foi com a devida atenção. Não sabem de sua tríade política nem nada disso. Mas, se nem mesmo Marx os esquerdistas brasileiros leram, por que exigiríamos a leitura do legendário torcedor do fluminense?

As pessoas são divididas em grupos, todos eles elaborados de acordo com a forma pela qual elas lidam com seus desejos – acho que é algo assim, não lembro muito bem das explicações da Dri, da Carol e do Doni. Os fãs de Nelson Rodrigues são todos histéricos: uns disfarçados de obsessivos, outros, de perversos.

Eu detesto os fãs de Nelson Rodrigues mais do que detesto os das duplas sertanejas ou conjuntinhos de meninos dançantes. E, para azar daqueles, preciso existir pra fazer valer o axioma da unanimidade.

Deixem-me aqui, portanto e, de preferência, em paz.

As pessoas, para Nelson Rodrigues, eram todas umas idiotas, pecadoras, viciadas, condenadas, deploráveis e burras. Muito, muito, mas muito burras. Tanto que a razão sempre se superava pelo desejo, pelo instinto, pelas vontades subterrâneas.

Ele estava certo. E eu não gosto das pessoas.

Vocês são a horda inteligentíssima que venera Nelson Rodrigues e vê no autor as virtudes de um Messias Literário; são os responsáveis pela torrespastorinhização de sua literatura. E eu sou a toupeira que não os acompanha, de modo a não permitir que essa devoção se torne uma unanimidade.

Talvez, assim, eu os salve da burrice. Ao menos, segundo o provérbio (ou profecia?) de seu cronista-messias-salvador.


Texto retirado do Blog Gravatai Merengue. Colaboração de Olavo de Carvalho.

4 comentários:

juberd2008 disse...

Maya,

Obrigado pela lembrança do meu blog para indicação do Meme.

Graça e Paz sobre sua vida.

Maya Felix disse...

Oi, Juber,

De nada, eu é que agradeço. Volte sempre.

Um abraço,

Maya

:)

Carla S.M. disse...

Maya,
Achei muito interessante e inteligente esse seu texto sobre o Nelson Rodrigues. Não analisei tudo ainda, mas me pareceu, sobretudo, uma reflexão a ser ponderada.

Maya Felix disse...

Carla,

Obrigada por sua visita e por seu comentário. Eu também gosto muito do texto, mas ele não é meu, não fui eu quem o escrevi!

Um abraço,

Maya

:)

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