Creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais simpático, de mais viril e de mais perfeito do que o Cristo; e eu digo a mim mesmo, com um amor cioso, que não existe e não pode existir. Mais do que isto: se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se acha n'Ele, prefiro ficar com o Cristo a ficar com a verdade. (Dostoievski)

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12 de ago. de 2007

Dies Dominicus

Mais um domingo... Ontem foi um dia triste. Há uns quatro meses recolhi, da Uema, uma cachorrinha abandonada. Geralmente me encantam os gatos, mas a história da cachorrinha, abandonada à sua sorte miserável, faminta, cheia de carrapatos, me comoveu. Levei-a ao veterinário, que aplicou-lhe as vacinas de praxe, deu-lhe um banho, recomendou isso e aquilo. Comprei ração, remédios, acolhi a cachorrinha em casa e dei-lhe o nome de Garota. Ao ver que era aceita, de medrosa passou a ser doce, calorosa. Eu chegava em casa e já ouvia seus latidos de alegria, e ela vinha toda faceira, se deitar aos meus pés. Após um momento seus problemas de saúde começaram, e foram muitos. Um calvário de internações, remédios, soro, até que ela emagreceu muito. Em seu pelo surgiu um fungo que não saía. Nenhum remédio foi capaz de controlar. Em mais uma visita ao veterinário, solicitação de exames, novos. E a confirmação de que a Garota estava muito, muito doente. Não havia cura, seria necessário sacrificá-la. Soube pelo telefone, ainda na sexta-feira, que o segundo exame, mais apurado que o primeiro, também tinha resultado positivo para a doença. Não tive coragem de ir buscá-lo, passei a sexta-feira sem saber o que fazer. No sábado pela manhã liguei para o veterinário e marquei a hora. Primeiro, fui buscar o exame. Eu e ela, no carro, fomos ao laboratório, e depois à clínica. Cheguei lá, então, e entreguei a Garota ao ajudante do veterinário. Fui ao banheiro e, quando voltei, haviam amarrado sua boca, para que ela não mordesse ninguém. Pedi que tirassem a corda, ela era tão doce que não morderia. Me despedi dela, como se soubesse que ela compreendia. Disse que não doeria, que ela não se preocupasse. Que deveria haver um céu para cachorrinhos como ela, que se houvesse ela iria pra lá. A primeira injeção já havia sido dada, lentamente a Garota, sedada, perdia os sentidos. Depois, a segunda. Mais um sedativo. E eu olhava e via que ela ainda respirava, de repente me deu vontade de pedir pra parar tudo, pra soltá-la, que eu iria cuidar dela, mesmo doente, mesmo que ela sofresse, porque meu carinho era muito egoísta, e eu já havia me acostumado com sua meiguice. Então veio a terceira injeção, cloreto de potássio. Essa fez com que seu coração parasse imediatamente. A essas alturas eu tentava ver se ela ainda respirava, e pedia perdão, porque por último vi em seus olhos a confiança que depositava em mim. Senti-me culpada e estúpida, impotente, sozinha. Seu corpo seria cremado. Dali foi recolhida, e não a vi mais. Cheguei em casa e esperei ouvi-la, mas o silêncio fazia as vezes de acusador. Vi suas coisas, brinquedos, pratinho, e joguei tudo fora. À noite chorei, soluçava como se tivesse perdido uma filha. E hoje o dia inteiro doía-me essa sensação de culpa e a saudade, as lembranças, a casa vazia. Queridos amigos que visitam meu bog, perdoem-me. Queria ter escrito algo mais alegre, quem sabe comentar a respeito da insanidade que assola o governo do Maranhão, ou observar as asneiras dos jornais chapa branca (seriam os jornalistas astronautas?), mas vou fazê-lo depois. Amanhã. Por enquanto minha dor é essa, exposta como uma ferida. Sei que vai passar, o tempo tudo leva, mas o que não posso agora é passar por cima do tempo. Porque há um tempo para todas as coisas. Boa semana a todos.

2 comentários:

Mônica Racco DF disse...

Minha amiga,

Muito triste sua estória, amo ler tudo que você escreve e fico fascinada com sua maneira de descrever as situações, me perdoe eu não tenho este dom, mas lembrei-me de um livro infantil que meu filho leu para um trabalho da escola "Os porques do coração" Neste livro fala sobre a morte e como lidamos com ela. A menina muito curiosa sempre perguntando os porques das coisas para os pais cansados de responder deram para ela um peixinho chamado igor e ele passou a ser seu melhor amigo e confidente criaram um laço de cumplicidade e amizade porém um dia ela chega em casa e o encontra morto... Dentro do seu quarto chorando muito ela pode escutar a voz do Igor dentro do seu coração no mar da saudade porém ela percebeu que tudo que tinha vivido com ele era muito forte e sabia que dentro dela no coração morava seu amigo então um dia quando ela o chamou não o encontrou ... porque da saudade ele tinha ido morar no cantinho do coração chamado Boas lembranças e isso ninguém iria poder tirar dela. Desculpe por usar um livro de criança me sinto até ridicula mas o livro trata do assunto da morte com tanto amor. O seu amiguinho pode estar na saudade que dói muito mas quando for para as boas lembranças com certeza seu coração vai se acalmar. Fique com Deus. Bjs
Mônica

Maya Felix disse...

Ô minha amiga, obrigada! Carinho, amizade e solidariedade nunca são infantis (ou são; nós, "adultos", é que nos esquecemos disso)...

Um beijo a todo o clã Rabelo, e um grande abraço pra você, saudades...

Maya

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