Uma cena de apartheid social
Um dia destes, no estacionamento de um McDonald's, em Brasília, dois jovens dentro de um carro se divertiam despejando batatas fritas no chão para que pivetes pobres fossem atrás catando. Quem assisitia, se não se divertia também, perguntava-se por que, no Brasil, isto é possível. O que faz com que um grupo se divirta daquela forma e outro rasteje daquele jeito?
Se se sentissem semelhantes aos pivetes, os jovens do carro e os que assistiam teriam alguma solidariedade com a pobreza. Os jovens não fariam aquilo, ou os assistentes não deixariam que eles tentassem. Por outro lado, os pivetes, se sentissem um mínimo de dignidade, teriam assaltado os donos do carro em vez de rastejar pelas batatas fritas.
O que permitiu a cena repugnante foi que os donos do carro se sentiam diferentes dos pobres pivetes. E estes, além de terem medo dos atentos vigilantes, viam no lixo que vinha dos ricos a única forma de matar a fome. Apesar da língua comum, da mesma bandeira, de poderem votar no mesmo presidente, os dois grupos se sentiam apartados um do outro, como seres diferentes.
É isso que caracteriza o apartheid. O que disfarça sua ocorrência no Brasil é que os pivetes ainda podem chegar perto do McDonald's e muitas pessoas ainda se chocam com uma cena como essa de Brasília.
Mas isso está mudando. Pouco a pouco os brasileiros ricos e quase ricos começam a assumir a diferença em relação aos pobres e se acostumar com a miséria ao lado, construindo mecanismos de separação.
Por isso, é preciso despertar para o problema. Entender o que está ocorrendo e apresentar alternativas.
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