A construção da imagem entre formas semânticas e formas plásticas: o tumulto semi-simbólico
A polissemia da palavra "imagem"
A palavra "imagem", freqüentemente utilizada nos estudos de semiótica plástica, é polissêmica, por isso gera ambigüidades indesejáveis no discurso científico. Fala-se em imagem da fotografia, da pintura, da escultura, da arquitetura etc., sugerindo que "imagem" se refere a qualquer manifestação numa semiótica plástica. Quando a palavra "imagem" aparece em estudos de semiótica aplicada a esse domínio da expressão, entende-se "imagem" como aquilo que se pode ver.
Desse modo, os registros escritos das línguas naturais também são imagens. Qualquer palavra - própria das semióticas verbais -, quando escrita, é antes vista que ouvida, o que faz desse registro lingüístico uma semiótica sincrética em que se combinam palavra e imagem escrita. Por pertencer aos domínios do visível, trata-se apenas de reconhecer a plasticidade da escrita e incluí-la nos domínios em que o conceito de "imagem" se confunde com a plasticidade da expressão.
Contudo, Saussure fala de imagem acústica ao referir-se ao significante verbal, e a teoria da literatura fala em construção de belas imagens por meio da palavra. No caso de Saussure, "imagem" diz respeito ao plano de expressão de ordem fonológica; concerne à semiótica verbal, antes audível que visível. A teoria da literatura, por sua vez, refere-se ao plano do conteúdo, portanto, ao domínio do texto em que o plano de expressão verbal pode ser desconsiderado, pois essas belas imagens são conceituais, não são vistas nem ouvidas, mas imaginadas.
Não se trata de fazer aqui a redefinição do termo "imagem", mas de esclarecer suas aplicações quando utilizado em análise semiótica. A palavra "imagem" vem do latim imago, que quer dizer semelhança, representação, retrato. Com essa etimologia, imagem, tomada como representação, pode se referir ao que se vê, ouve-se ou se imagina.
Tanto a música quanto as artes plásticas podem construir belas imagens de conteúdo, como a Sinfonia n° 6, de Beethoven, ou a Noite Transfigurada, de Scheonberg, assim como as Composições, de Mondrian ou Kandinsky. Em domínios semânticos, não é só a arte literária que cria imagens de conteúdo.
Entretanto, quando se trata do plano de expressão plástica, a imagem do conteúdo é facilmente confundida com a imagem que se vê por meio da expressão, e uma é tomada pela outra sem distinções. O desenho de uma árvore, por exemplo, é formado por meio de categorias plásticas, pois nele há cromatismo e forma, dispostos numa topologia - trata-se da imagem vista -, mas reconhecer nesse significante uma relação com o conceito de árvore diz respeito ao plano de conteúdo, pois são categorias semânticas, a imagem imaginada. Construída por meio de formas semânticas, a imagem do conteúdo tem propriedades conceituais que, quando textualizadas em semiótica plástica, passam pelo proceso de manifestação em que categorias de conteúdo são traduzidas em categorias plásticas.
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Em Análise do texto visual - a construção da imagem, de Antonio Vicente Pietroforte.
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