Creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais simpático, de mais viril e de mais perfeito do que o Cristo; e eu digo a mim mesmo, com um amor cioso, que não existe e não pode existir. Mais do que isto: se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se acha n'Ele, prefiro ficar com o Cristo a ficar com a verdade. (Dostoievski)

FAÇA COMO EU: VISITE O BLOG DELES, E SIGA-OS TAMBÉM! :)

1 de jul. de 2008

2008 - 1968, na UnB

FOTO: web

Este texto já deveria ter sido escrito há algum tempo. Ele é o resultado de muita reflexão sobre o que se passou recentemente na UnB, universidade que tem muito a ver com a minha vida.

Em outras postagens, aqui no Blog, critiquei as ações dos estudantes da UnB e da malfadada UNE, que eu considero uma entidade não só corrupta como inexpressiva, no episódio da saída do ex-reitor, Timothy Mulholland.

Acho que o que os estudantes fizeram foi dar um tiro no pé, e agora eu posso me deter mais nisso e escrever algo efetivo a respeito.

Primeiro, os estudantes foram movidos por acusações e reportagens da mídia – essa mesma mídia burguesa não-confiável que eles abominam. Não foram movidos por um julgamento, um processo embasado, provas irrefutáveis. Não. A fragilidade de seus argumentos era visível, mas, como a moda era ocupar reitoria Brasil afora, seguiram.

Além disso, os estudantes afrontaram a própria instituição, que eles tanto prezam, e seus mecanismos jurídicos. Pensavam defender a UnB, mas a fragilizaram, pois a colocaram em “estado de sítio”. Se isso fosse resolver alguma coisa, de fato, a atitude talvez fosse menos burra, mas o “x” da questão é que isso tudo só serviu para tirar um partido da Reitoria e colocar outro.

As eleições para reitor são uma conquista que levou anos. A ditadura impunha quem bem queria, e fim de conversa. O direito reconquistado pelos que nos antecederam foi duramente golpeado com a atitude aparentemente corajosa, mas tremendamente covarde, dos estudantes.

Agora, para se retirar do cargo um reitor eleito pela comunidade universitária, basta que uns cem estudantes ocupem a reitoria. Na assembléia de estudantes, vexame, havia cerca de mil. E o número aproximado de estudantes da UnB chega a quinze mil, daí para cima. Além de não terem representatividade, os estudantes que ocuparam a reitoria o fizeram pelo simples prazer da aventura, da adrenalina, para ter o que contar aos netos, pelos 15 minutos de holofotes e para, quem sabe, começar a cavar uma futura candidatura de deputado aí ou conseguir uma boquinha no Governo Lula, que a crise não poupa ninguém.

No momento em que exigiram a saída de um reitor legitimamente eleito, sem nenhum julgamento, sem a devida apuração, os estudantes tentaram levar tudo no tapetão, como se diz. Esse mesmo mecanismo foi muito utilizado na ditadura, que prendia e executava sem julgamento. Isso mesmo é feito hoje, em muitas favelas, pela PM, que invade casas e mata supostos criminosos. Os traficantes também não deixam nada a dever, pois estão habituados a julgarem, eles mesmos, quem é inocente e quem é culpado. Os estudantes da UnB se arrogaram o poder de decidir quem era culpado e inocente naquela história. Só isso. Que se danasse Justiça, investigação, perícia. Os estudantes se colocaram acima do bem e do mal, e decidiram, eles mesmos, o que deveria acontecer.

Basearam-se eles nas “provas” fartamente mostradas pela mídia: uma lixeira, um apartamento luxuosamente decorado, um saca-rolhas. Imaginem se os integrantes do MST resolvessem invadir o gabinete do presidente da República e só decidissem desocupá-lo, mesmo indo contra ordem judicial, se o Lula renunciasse. Alguém ainda perguntaria: “Mas por que vocês exigem a saída do presidente que foi eleito pela maioria dos brasileiros?” E eles responderiam: “Esse presidente canalha e reacionário comprou um avião luxuosíssimo em vez de usar o dinheiro para fazer a reforma agrária. Quantos assentamentos o presidente não poderia ter viabilizado se não tivesse insistido na vaidade de um avião que custou 56,7 milhões de dólares, aproximadamente 170 milhões de reais?” “Mas o avião é do Lula?”, ainda poderiam perguntar os desavisados. “Não, o avião é do Governo Federal, mas isso não interessa! Foi para seu próprio uso que ele o comprou! Imaginem! Um avião que tem salões ricamente decorados, acomodações privativas com cama, banheiro e muito mais! Até sauna!” “Mas não é melhor exigir um impeachment, no caso, como fizeram com o Collor, que foi julgado e saiu da Presidência por vias democráticas?”
.
É claro que não. Pelo raciocínio dos estudantes da UnB, os militantes do MST que porventura invadissem o gabinete da presidência e exigissem a saída do presidente sem julgamento nem direito a defesa estariam certíssimos. Nem Costa e Silva agiria de modo tão exemplarmente autoritário.
.
É importante lembrar que o ex-reitor Antonio Ibañez, que é filiado ao PT, não construiu nem um quartinho para os estudantes, muito menos alojamento estudantil. Cristovam Buarque, que precedeu Ibañez, idem. E Roberto Aguiar, pelo que vemos, ibidem. Aliás, Roberto Aguiar é filiado ao PT, também. Assumiu a Reitoria por indicação política do MEC e se comprometeu a realizar eleições seis meses depois. Assumiu no dia 15 de abril passado. Vão-se aí quase três meses. Alguém se interessa em saber como estão as investigações a respeito do desvio de verbas da Finatec? Não. O entusiasmo era mesmo para desalojar o ex-reitor. E só. Atos assim, em geral, os chamamos de inconseqüentes, pois não têm nenhum desdobramento, tendo apenas um fim em si mesmos, seja por vaidade, seja por ignorância, seja por interesses outros.

Eu, particularmente, gostaria de saber o que aconteceu com o processo. Alguém foi ouvido? Houve julgamento? E a UnB, melhorou? Revolucionário de butique não falta, mas eu pergunto: onde estão os que realmente têm comprometimento com a UnB, com a pesquisa, o ensino, a democracia, a construção não só de alojamentos para os estudantes, mas de novos prédios, a aquisição de mais livros para a biblioteca, além de tantas outras demandas? Onde estão os que deveriam condenar a corrupção em qualquer esfera, mas só souberam fazê-lo da porta pra dentro? E a corrupção no Governo Federal, não conta? E os dólares na cueca, o lucro bilionário dos banqueiros, o mensalão, o desmatamento recorde na Amazônia, o cartão corporativo da Matilde e do Orlando, o ministro da tapioca?

Eu defendo a UnB. E mais: defendo o direito de defesa, esse mesmo que o presidente pediu que fosse dado, por exemplo, ao José Dirceu, quando a merda foi jogada no ventilador. Será que o direito de defesa vale para os membros do PT, mas não vale para os outros? Defendo o funcionamento normal dos mecanismos democráticos, porque são estes os que temos, e, apesar de não serem eles perfeitos, foram reconquistados e construídos a duras penas, em época que a maioria dos estudantes não era nem projeto de vida. Defendo que esses mecanismos sigam seu curso normal, para que não haja privilégios nem abusos. Defendo o fato de que uma eleição para reitor, independentemente dos defeitos que haja em seus processos constitutivos, é infinitamente superior em representatividade que a ocupação de um gabinete por uns gatos pingados.

Caso nada disso seja respeitado, deixo aqui meu conselho à estudantada: façam logo a revolução socialista. É a única via que eu conheço para destruir satisfatoriamente a democracia burguesa. Enquanto vocês não constroem (ou quem sabe não ressuscitam) a Internacional, entendam: pressão popular existe e é válida, mas isso deve por em funcionamento os atores político-institucionais da sociedade, para que se movimentem e legitimem qualquer processo.
.
Infelizmente ou felizmente, por enquanto, é assim que funciona. Foi assim com o fim da ditadura, com as Diretas Já, com a queda de Collor e a própria eleição de Lula, que pelo que me consta não invadiu o Palácio do Planalto exigindo ser colocado no cargo: foi eleito. Quem tomou o poder à força, neste país, foram os militares, em 1964.
.
***
.
Mayalu Felix

Nenhum comentário:

Marcadores

Comportamento (719) Mídia (678) Web (660) Imagem (642) Brasil (610) Política (501) Reflexão (465) Fotografia (414) Definições (366) Ninguém Merece (362) Polêmica (346) Humor (343) link (324) Literatura (289) Cristianismo (283) Maya (283) Sublime (281) Internacional (276) Blog (253) Religião (214) Estupidez (213) Português (213) Sociedade (197) Arte (196) La vérité est ailleurs (191) Mundo Gospel (181) Pseudodemocracia (177) Língua (176) Imbecilidade (175) Artigo (172) Cotidiano (165) Educação (159) Universidade (157) Opinião (154) Poesia (146) Vídeo (144) Crime (136) Maranhão (124) Livro (123) Vida (121) Ideologia (117) Serviço (117) Ex-piritual (114) Cultura (108) Confessionário (104) Capitalismo (103) (in)Utilidade pública (101) Frases (100) Música (96) História (93) Crianças (88) Amor (84) Lingüística (82) Nojento (82) Justiça (80) Mulher (77) Blábláblá (73) Contentamento (73) Ciência (72) Memória (71) Francês (68) Terça parte (68) Izquerda (66) Eventos (63) Inglês (61) Reportagem (55) Prosa (54) Calendário (51) Geléia Geral (51) Idéias (51) Letras (51) Palavra (50) Leitura (49) Lugares (46) Orkut (46) BsB (44) Pessoas (43) Filosofia (42) Amizade (37) Aula (37) Homens (36) Ecologia (35) Espanhol (35) Cinema (33) Quarta internacional (32) Mudernidade (31) Gospel (30) Semiótica e Semiologia (30) Uema (30) Censura (29) Dies Dominicus (27) Miséria (27) Metalinguagem (26) TV (26) Quadrinhos (25) Sexo (25) Silêncio (24) Tradução (24) Cesta Santa (23) Gente (22) Saúde (22) Viagens (22) Nossa Linda Juventude (21) Saudade (21) Psicologia (18) Superação (18) Palestra (17) Crônica (16) Gracinha (15) Bizarro (14) Casamento (14) Psicanálise (13) Santa Casa de Misericórdia Franciscana (13) Carta (12) Italiano (12) Micos (12) Socialismo (11) Comunismo (10) Maternidade (10) Lêndias da Internet (9) Mimesis (9) Receita (9) Q.I. (8) Retrô (8) Teatro (7) Dããã... (6) Flamengo (6) Internacional Memória (6) Alemão (5) Latim (5) Líbano (5) Tecnologia (5) Caninos (4) Chocolate (4) Eqüinos (3) Reaça (3) Solidão (3) TPM (2) Pregui (1)

Arquivo