Creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais simpático, de mais viril e de mais perfeito do que o Cristo; e eu digo a mim mesmo, com um amor cioso, que não existe e não pode existir. Mais do que isto: se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se acha n'Ele, prefiro ficar com o Cristo a ficar com a verdade. (Dostoievski)

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10 de abr. de 2009

a história é bonitinha, mas não foi o coelhinho quem morreu na cruz...


Coelhinho da Páscoa ou Cristo na cruz?

(texto de Vívian Marassi)

Desde que me descobri grávida, assumi comigo mesma o compromisso de sempre dizer a verdade para a minha filha. Na medida do possível, tenho sido verdadeira ao afirmar que ela irá ao pediatra para tomar vacina, que hoje não é dia de piscina na escolinha (ela bem que gostaria que todos os dias fossem de piscina, e minha empregada tem o péssimo hábito de tentar acalmá-la na base da mentira, dizendo só as coisas que a pequena gostaria de ouvir). Ao ouvir a verdade, ela fica chateada, claro, mas aprende que a vida nem sempre é como gostaríamos que fosse e, principalmente, que os pequenos dissabores fazem parte do dia-a-dia e não matam ninguém de desgosto.

Só que nem sempre dá para seguir ao pé da letra o compromisso com a verdade. Afinal, da infância faz parte também um quê de magia, aquele sentimento fantástico do qual sentiremos saudade na vida adulta. Ainda hoje lembro com carinho das vésperas de Natal, em que aguardava ansiosa a chegada do bom velhinho. O que me fascinava não era o brinquedo que eu viria a ganhar, mas a figura do Papai Noel, aquela coisa mágica de acreditar realmente que existe um velhinho bondoso que distribui brinquedos para todas as crianças do mundo e que visita os contemplados a bordo de um trenó voador. A pior parte do meu processo de crescimento foi o fim da magia. Desde então, os Natais perderam a aura de encanto. Continuaram sendo dias especiais, mas desprovidos daquela beleza que tanto me fascinava. 

Por isso, foi uma alegria redescobrir na minha filha o encanto pela figura fascinante do Papai Noel, o que me fez abrir pequenas brechas no meu compromisso de dizer sempre a verdade. 

Para não enfatizar somente o lado pagão da coisa, passei o mês de dezembro contando para a pequena a história do menino Jesus, que, por sinal, ela adorou. Para complementar o ensinamento, dei de presente para ela um presépio infantil, da marca Little People, ideal para crianças muito pequenas (leia-se: inquebrável). Então ela conseguiu captar parte da mensagem e saiu contando para os amiguinhos que o Papai Noel dava presentes para comemorar a chegada do menino Jesus.

Chegada a época da Páscoa, optei por fazer a brincadeira do Coelhinho. Afinal, faz parte do "pacotinho básico das crenças infantis". Não tem como acreditar em Papai Noel sem acreditar em Coelhinho da Páscoa, e vice-versa! Só que, para cumprir meu compromisso de dizer a verdade, eu precisava também contar a história por trás da celebração da Páscoa. Disposta a encarar o desafio, chamei a pequena e a coloquei no meu colo.

-"O Coelhinho da Páscoa vai deixar ovinhos de chocolate para você amanhã"
-"Por quê?" (terrível fase essa, a dos porquês!)
-"Porque é um dia muito especial".
-"Por quê?".
-"Errrr...". 

Na hora me veio a imagem de Cristo crucifixado, e ainda pensei resumir contando que o Menino Jesus morreu na cruz e depois voltou a viver, mas imaginei que ela choraria ao saber que o Menino Jesus, aquele do presépio, que nasceu há poucos meses, bem ali no Natal, o principal responsável por ela ter ganho um presente do Papai Noel, morreu e foi para o céu, e continuaria chorando copiosamente com a notícia, por mais que eu dissesse que ele ressuscitou.

Pensei bem. "Quer saber por que é um dia especial? Ora, é por que o coelhinho da Páscoa vai deixar logo cedo um monte de chocolates, depois vamos almoçar com os seus avós, em seguida vamos para a casa dos seus outros avós, para você brincar com os seus priminhos... Quer algo mais especial do que isso?"!

E foi assim que enterrei o meu "compromisso com a verdade". Afinal, mais fácil uma criança acreditar no Coelhinho da Páscoa do que na existência de pessoas capazes de matar Jesus, não é mesmo?

FONTE: Blog Amélia às Avessas

NOTA: Achei o texto uma gracinha, a escrita é leve e fluida, mas... Bom, por mais que as intenções da mãe sejam nobres, acho que seu principal compromisso com a verdade foi burlado por uma idéia equivocada da percepção da filhinha, da alegria infantil e do mercado cultural de massas. A verdade é que não foi o coelhinho quem morreu na cruz, não é ele a razão da Páscoa e talvez não dê (como, no caso dela, não deu) pra conciliar as duas histórias. A morte faz parte desta vida, e a criança começa a aprender isso pequena mesmo, quando morre um parente ou mesmo um animalzinho de estimação (o que é também doloroso, mas não dá pra colocar as crianças em bolhas de vidro, fora do mundo). Nós subestimamos as crianças, e deixamos de lhes dizer coisas importantes para tentar, falsamente, preservá-los. A idéia de que Jesus morreu mas viveu de novo poderia ter trazido, quem sabe, mais surpresa e fascinação que a imagem de um coelho que bota ovo de chocolate... 

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