Che devolve a visão a seu assassino
Todos os que me conhecem de perto sabem que não sou grande fã do regime cubano em geral, ou do Che Guevara em particular. Mas, como jornalista, tenho de dar uma notícia que passou batida durante os quarenta anos da morte do Che, lembrados o mês passado tanto por inimigos quanto por simpatizantes.
Acontece que em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, o filho do idoso cidadão Mario Terán procurou o jornal El Deber, para pedir que fosse publicada uma nota de agradecimento aos médicos cubanos enviados à região dentro do acordo de cooperação entre os governos boliviano e de Cuba. Eles haviam operado Mario Terán de catarata, e lhe devolvido a visão - Terán estava cego havia tempo e não tinha recursos para fazer a operação. O relato é do jornalista Héctor Arturo, do jornal Granma de Havana.
Ora, Mario Terán é o suboficial que matou Che Guevara há quarenta anos, na escola da cidadezinha de La Higuera, na Bolívia.
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Diz Arturo: "Ao receber a ordem de seus chefes, Terán teve de recorrer ao álcool para se encher de coragem e cumprir a ordem. Ele mesmo contou depois à imprensa que tremia como uma folha ao vento diante daquele homem a quem, naquele momento, viu como 'grande, muito grande, enorme'. Che, ferido e desarmado, sentado ao chão de terra da humilde escolinha, observou que Terán estava vacilante e temeroso, e teve toda a coragem que faltava a seu assassino para abrir a rasgada camisa verde-oliva, descobrir o peito e gritar: 'Não tremas mais e dispara aqui, que vais matar um homem'. O suboficial Mario Terán, cumprindo ordens dos generais René Barrientos e Alfredo Ovando, da Casa Branca e da CIA, disparou."
E continua o jornalista: "Mario Terán, agora, não teve de pagar um único centavo por ter sido operado de catarata por médicos cubanos num hopital doado por Cuba e inaugurado pelo presidente Evo Morales em Santa Cruz". Ou seja, quarenta anos depois, o Che devolveu a visão a seu assassino.
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Texto do jornalista Renato Pompeu [renatopompeu@carosamigos.com.br], publicado na revista Caros Amigos ano XI, nº 128, novembro/2007, p. 16.
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