Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
Texto extraído do livro Adélia Prado - Poesia Reunida, Ed. Siciliano - São Paulo, 1991, p. 252.
NOTA: Já é a terceira vez que posto esta poesia aqui... Como me encanta! Que sublime, uma poesia que explode em luzes e bolhas de sabão, e as cores das bolhas de sabão na luz... Eu sinto essa alegria quando a leio. E quanta felicidade, quanta profundidade nessa coisa simples e besta que é o amor! E tão essencial... Como diz a Clarice Lispector... "Sinto a falta dele como se me faltasse um dente na frente: excrucitante".
3 comentários:
Maya minha querida... somos "chegadas", bem próximas sabia? Adélia Prado, me traduz (ousadia) Clarisse...corpo e alma. O Flavinho Venturini, namorei esses olhos azuis, viajando(com essa canção) num sonho num síto lindíssimo em Sao Paulo onde nos aquecíamos com vinho, lareira e 'canabis' (antes do inferno, claro)
Quer parar que me escancarar?
*rsss
Snif...
Mama,
Tudo a ver!
___________
José Roberto,
Snif...
Postar um comentário