Polícia indicia professora por manter empregada sem sair de casa e sem salário por 14 anos
Por meio de uma denúncia anônima, a Polícia de Salvador resgatou a empregada doméstica Gabriela de Jesus Silva, 25, da casa da professora Maria Helena Silva, 55.
Em seu depoimento à delegada Francineide Moura (12ª Delegacia), a empregada doméstica disse que trabalhou durante 14 anos na casa da professora sem receber salário e sair da residência.
"Eu apanhava de vassoura, de cinto, recebia beliscões e tapa no rosto de dona Maria Helena e do seu marido [o comerciante José Carlos Carneiro Silva]", disse a empregada doméstica, na tarde de segunda-feira, em seu depoimento.
A professora negou os maus tratos, mas confessou que não pagava salário pelo trabalho da doméstica e nunca permitiu que ela saísse de casa. "Ela tem problemas mentais e eu sempre a tratei como uma filha." A professora e seu marido foram indiciados por crime de escravidão."
Gabriela não tem carteira assinada, não recebe salário, não tem autorização para sair sozinha e ainda faz todos os serviços domésticos. Na realidade, ela vive numa condição de escravo", disse a delegada.
Ainda em seu depoimento, Gabriela Silva contou que morava na zona rural de Cansanção (341 km de Salvador) quando foi entregue pelo pai à professora, que teria prometido colocá-la em uma escola e cuidar da menina.
Maria Helena Silva, 55, diz que tratava Gabriela como uma filha
Maria Helena Silva, 55, diz que tratava Gabriela como uma filha
"Fui para a escola apenas uns dias e somente uma vez, mesmo assim com a minha patroa, é que visitei a minha família. De domingo a domingo, eu acordava às 4h30 para preparar o café das filhas da minha patroa, que saíam cedo para trabalhar. Não estudava pela manhã porque tinha de fazer os trabalhos domésticos e, à noite, dona Helena dizia que era muito perigoso.
"Em troca dos serviços domésticos, Gabriela Silva ganhava comida, roupas e tinha um colchonete para dormir no chão. "Ela nunca me deu dinheiro, só o filho dela, o Júnior, que ficava com pena de mim e, às vezes, me dava algumas moedas", disse a empregada doméstica em seu depoimento.
Depois de deixar a delegacia e seguir para um abrigo provisório, a empregada doméstica disse que pretende continuar morando em Salvador. "Agora, depois de 14 anos, quero sair como qualquer pessoa, fazer amigos, estudar e tentar fazer uma faculdade."
Os policiais que resgataram Gabriela Silva chegaram à casa da professora por volta das 7h30 de segunda-feira (9), com um mandado de busca e apreensão. Quando entraram na residência de classe média, dois andares, perceberam que a empregada doméstica já estava na cozinha, preparando o almoço. Em seguida, a empregada foi submetida a exames de lesões corporais, no DPT (Departamento de Polícia Técnica).
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Reportagem de Manuela Martinez em colaboração para o UOL, em Salvador. Publicada no Portal de notícias UOL em 11/06/2008.
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