onde estão eles?

Onde estão eles?

No momento em que a Nação, estupefata, assiste à mais lamacenta decadência moral dos Poderes da República, com a normalização da corrupção, do nepotismo, da fraude, da desonestidade e do roubo, onde estão eles? Onde estão eles, que deveriam ser os primeiros a gritar a favor do pobre e do desamparado? Onde estão eles, que em tese deveriam imitar o Cristo, que foi justo e abriu sua boca contra os desonestos e poderosos de seu tempo? Onde estão eles, que lêem na Bíblia as palavras dos profetas contra a impiedade, mas não as cumprem? Onde estão eles, que domingo após domingo se ajoelham orando para a salvação do Brasil, mas se negam a ir para as ruas a fim de clamar por Justiça para o Brasil? Onde estão eles, que fundam ONGs para que a Justiça corra como um rio mas nessas horas se calam e compactuam com os poderosos? Onde estão eles, que participam de pomposos movimentos evangélicos progressistas, mas fazem acordos com os que despudoradamente sustentam o mal? Onde estão eles, que deveriam ser sal e luz em meio a uma geração que desconhece o que é sal e luz, mas, nas ruas, clama por sal e luz? Onde estão eles, que dia após dia oram por prosperidade, mas não estão nas manifestações públicas, junto ao povo, indignados com a falta de prosperidade do país? Onde estão eles, que deveriam se unir aos jovens, aos aposentados, aos homens e mulheres que hoje choram de vergonha diante da acintosa e espúria trama que se desenrola no Senado Federal e na Presidência da República? Onde estão eles, que diante de um Faraó moderno são incapazes de conduzir o povo através do deserto ético que se tornou a política brasileira? Onde estão eles, que falam uns contra os outros, publicam em seus blogs cartas de protesto contra membros do Governo, mas são incapazes de ir para a praça se unir aos que gemem de tristeza? Onde estão eles, que deveriam escrever em cartazes versos dos livros de Amós, Isaías, Jeremias, Provérbios, Eclesiastes, Mateus, Marcos, João, Lucas – e, na verdade, toda a Bíblia, que, em todo tempo, mostra a indignação de Deus para com a torpeza humana? Onde estão eles, que não saem em público para clamar contra o pecado? Onde estão eles, cujo nome tenho vergonha de pronunciar por também fazer parte deste grande grupo de brasileiros que, indo para a Igreja todos os domingos, de lá saem mais cegos, mais surdos e mais mudos? Arde em mim o sentimento mais triste de vergonha, quando me lembro de que os evangélicos não se indignam mais com a mentira, a desonestidade, o roubo, o cinismo, a opressão e a impiedade. Quando me lembro de que neste sábado, 22/08, em todo o país, pessoas comuns estarão se reunindo publicamente para clamar contra a injustiça, a favor do pobre e do necessitado, a favor da honestidade e da verdade, a favor da Justiça e da ética, e os evangélicos estarão em suas casas, em suas igrejas, em seus clubes, fazendo suas compras, indo ao salão de beleza, à praia e ao cinema. Mas não estarão cumprindo sua missão primeira, de amar a Deus, de amar o próximo, de ser sal e luz em meio a uma geração corrompida.