Creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais simpático, de mais viril e de mais perfeito do que o Cristo; e eu digo a mim mesmo, com um amor cioso, que não existe e não pode existir. Mais do que isto: se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se acha n'Ele, prefiro ficar com o Cristo a ficar com a verdade. (Dostoievski)

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29 de dez. de 2008

2009 chegando...


Le vieil homme et l’Église

Termino 2008 relendo Georges Hourdin, em seu Le vieil homme et l’Église. Georges Hourdin é um dos mais conhecidos pensadores católicos da França. Fundador de um dos grandes grupos de imprensa francesa de inspiração cristã, publicou muitos livros, entre os quais Simone Weil e Dietrich Bonhoeffer. Ele faleceu enquanto eu ainda morava em Paris, e os ecos de sua morte me chegaram por meio de uma vizinha, que no final das contas me presenteou com seu livro.

Entre críticas e críticos, Georges Hourdin fez à igreja da qual fazia parte críticas essenciais. A uma igreja que perde fiéis e é criticada em toda a França e demais países da Europa, Hourdin fez críticas fraternais. Mais do que a inteligência e o desejo desmesurado de demonstrá-la, Hourdin fez uso da sensibilidade do entendimento. Nenhuma crítica alcança a totalidade, eis porque é preciso que a boa crítica seja também humilde. E não alcança porque conhecemos de modo parcial. A arrogância do que pretensamente sabe, sua verborragia e sua certeza são o indício de que ele não sabe. Usamos as palavras para delimitar, mas o conhecimento se estende no silêncio. Usamos as palavras para demarcar, mas a sabedoria está no silêncio -- silêncio que traz em si todas as significações, fluidas e plenas.

Volto a Georges Hourdin, católico laico francês que empreendeu a crítica mais propositiva já feita a alguns dogmas e práticas históricas anti-bíblicas da Igreja Católica. Ler Georges Hourdin é entrar num mundo que pode ser crítico, mas é, também, propositivo e sábio. É esse o mundo da verdadeira discussão, pois fora dele demarcamos posições e nos entrincheiramos, cientes de nossa razão.

A crítica arrogante, de fato, é estúpida -- jamais propositiva. Em geral, é autocentrada. Busca mais o reconhecimento para quem escreve e a agressão pure et dure que a construção de uma síntese. Entretanto, mais que agudeza de espírito e agressividade calculada, precisamos de vozes dispostas a aparar arestas.
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Trago a questão para o nosso mundo protestante-evangélico, no qual os fiéis se empenham em lutar contra si mesmos. Quantos blogs que vivem não para falar de Cristo, mas para criticar barbaramente, acidamente, agressivamente, os que não são de sua denominação, ou movimento, ou categoria. Entretanto, mais do que textos que decretam a sordidez da Igreja e a estupidez dos líderes ou dos fiéis, precisamos de pessoas que acolham, e agreguem – como fazia Georges Hourdin com sua Igreja Católica. Não se trata, de modo algum, de compactuar com erros e acalentar desvios, mas façamos uma crítica mais honesta e menos cínica, é tudo.
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Diz a sabedoria popular que Deus não precisa de advogados, mas de testemunhas, mas a natureza humana é ávida pelo papel de advogado, sobretudo do que acusa. Não faltam, para escrever críticas pretensamente lúcidas à Igreja de Cristo e aos fiéis, as Vestais da Pureza da Fé Cristã (falarei das Vestais em outro texto...). Então, à aspereza da crítica ignorante – pois não sabem, não conhecem realmente o que criticam – posto que incapaz de se questionar e de lançar suas bases com a humildade dos que sabem muito, mas não sabem tudo, oponho a crítica propositiva. Aos que decretam ser o ápice da inteligência em si, oponho a ponderação do Espírito em nós. À facilidade do discurso odiento e egocêntrico, oponho o discurso calmo do sábio.

Saber não é acumular informação. Citar autores para conferir argumento de autoridade a um texto medíocre é um risco que deve ser levado em conta, pois pode maravilhar uns e gerar desagradável surpresa em outros. Tenho lido críticas à Igreja e aos cristãos que me parecem generalistas e obtusas, porém mascaradas por frases e vocabulário pretensamente sábios. Em geral, são textos azedos, sustentados por intelectualismos frágeis, salpicados aqui e ali de citações deslocadas de seu contexto. Tenho lido críticas que são mais uma radiografia do estado emocional e psicológico de quem escreve do que um discurso referencial. São textos que eu chamo de “índices”, visto que, como setas, apontam não para o problema enfocado na crítica (quase sempre rasa e pouco respaldada em uma realidade comum), mas para o autor da crítica e sua realidade particular.

O autor do texto é o sujeito do discurso e se trai ao produzi-lo, ainda que não escreva nenhum verbo flexionado na primeira pessoa do singular. Imagino como é o produtor desse discurso: irônico, arrogante, cheio de sentimentos superiores a respeito de sua concepção de mundo e de si mesmo, de sua atuação como crítico, que revela o quanto odeia a Igreja e o quanto deseja mudar o que lhe incomoda – sem querer saber, no entanto, o que pensam e sentem os demais, inclusive os participantes da estrutura à qual se dedica a criticar. Na interação, o crítico furioso escreve para si mesmo e seus amigos, que concordam com ele e o elogiam, dando sustentação e apropriando-se de seu discurso. Mas ele sabe que suas palavras não ecoarão, não sairão da zona de conforto que ele criou para preservar sua face como locutor. O crítico raivoso de que falo deseja mudar costumes e conceitos diferentes do que ele concebe como “o certo”. No fundo, o que ele não suporta é a diferença. Deseja que todos pensem como ele, pois quem transgride seu "pequeno manual do deus verdadeiro e certo" está errado.

Discordar é a base de qualquer crítica, mas além da discordância alguns críticos nos legam um sentimento de injustiça e, em virtude disso, pouca reflexão. Porque são irônicos, mas não são inteligentes. São ásperos, mas não são justos. São intelectuais, mas não são sábios. São raivosos, mas não são honestos. São polifônicos, mas não são equilibrados. São espirituais, mas não são amorosos. São lógicos, mas não são ponderados. São arrogantes, mas não são superiores. À crítica que infantilmente desagrega, oponho a crítica adulta e propositiva.

Esta é minha observação sobre 2009, um ano em que tivemos, no mundo evangélico e na blogosfera cristã, muitos advogados de acusação e poucos conciliadores, muitos escritores tiranos e poucos cristãos pacientes.

Agradeço aos leitores pelas visitas, mas também – e, sobretudo – a Deus, sem o qual nada é. A Ele, por Ele e para Ele desejo a todos um ano abençoado. Que 2009 seja o ano em que O vejamos, de fato, em nós.

Segue um trecho do primeiro capítulo do livro Le viel homme et l’Église, de Georges Hourdin, no original em francês e, depois, uma tradução minha para o texto.
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Feliz 2009...
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:)

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“L’Église catholique de France risque de disparaître. C’est tout au moins ce que nous dit l’analyse des faits, si l’on veut bien regarder plus loin et ne pas se contenter de récupérer le succès de tel ou tel rassamblement.

Elle agonise sous sa forme actuelle, et je pleure devant cette perte irréparable toutes les larmes de mon amour. Que s’est-il donc passé?

Peut-on agir? Est-il encore temps d’intervenir? Je le crois. Je proposerai donc des reformes que les croyants attendent, qu’ils exigent même..., qu’il est impossible de leur refuser.

Et comme le Christ m’est viscéralement cher, que je ne peux oublier son message, je dirai les raisons que nous avons d’espérer, puisqu’à travers des homes et des communautés, l’Évangile de Marc, de Matthieu, de Luc, de Jean, est toujours vivant.”

HOURDIN, Georges. Le viel homme et l’Église. Paris, Desclée de Brouwer, 1998, p. 9,10.

**

"A Igreja Católica da França corre o risco de desaparecer. Pelo menos é o que nos diz a análise dos fatos, se desejamos ver mais longe e não nos contentar em recuperar o sucesso deste ou daquele encontro.

Ela agoniza em seu modelo atual, e eu choro diante desta perda irreparável todas as lágrimas do meu amor. O que está acontecendo?

Podemos agir? Ainda é tempo de intervir? Eu acredito nisso. Vou propor, então, reformas que os fiéis esperam, que exigem... que é impossível recusar-lhes.

E como o Cristo me é visceralmente caro, e eu não posso esquecer sua mensagem, direi as razões que temos para esperar, visto que por meio dos homens e das comunidades, o Evangelho de Marcos, de Mateus, de Lucas e de João está sempre vivo."

HOURDIN, Georges. Le viel homme et l’Église. Paris, Desclée de Brouwer, 1998, p. 9,10. Tradução nossa.

2 comentários:

Ivan Panicio disse...

Paz Do Senhor Cara Maya

Foi muito bom conhecer seu Blog, através do Blog do Pr. Ciro.

Que o Senhor continue abençoando sua vida em todos os aspectos.

Saudações em Cristo
Pb. Ivan Tadeu
www.ivantadeu.blogspt.com

Maya Felix disse...

Olá, Ivan,

Obrigada por sua postagem, você é sempre bem-vindo, por aqui!

:)

Feliz 2009!

Maya

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