Um fenômeno da imprensa de futilidades é a repetição de certas palavras para designar astros e estrelas do show business. Os termos escolhidos se desgastam com o tempo e adquirem novos sentidos, após o uso indiscriminado. Há algum tempo que o emprego de determinados termos foi amplamente adotado nas reportagens descoladas e desmioladas que ilustram o mundinho dos artistas, quase sempre das novelas e do mundo musical de baixa qualidade, dos endinheirados e das pessoas estilosas.
Outro dia parei em uma banca de jornal e comecei a folhear uma revista dessas. Lá estavam as “deusas”, as “musas” e os “maridões”. Sem encontrar termos novos, a mídia repete essas mesmas palavras ad nauseam. Da revista Caras à TV Brasil, lá estão eles. São personagens de nosso cotidiano no salão de beleza, na ante-sala do dentista, do médico e da esteticista. Não nos faltam na hora de enfrentar aqueles minutos chatos até a hora do atendimento.
Por “musa” entenda-se qualquer mulher que tenha feito comercial de cerveja. Tirou foto pelada? É musa. Colocou silicone nos peitos? É musa. Dos gregos resta uma vaga lembrança da idéia original, usada e abusada nestas terras tropicais. Da Sandy à Ana Maria Braga, todas são musas. Uma não-musa deveria ficar feliz: saiu da vala comum. O uso de “musa” está tão difundido que daqui a pouco vão substituir o “senhora” por musa. Senhora, mulher, deputada, senadora, prefeita, cantora, atriz, a lista é longa. Imaginem a revista Carta Capital, ou a Veja, chamando a ministra Dilma Roussef de “musa”. Não está longe de acontecer.
Pior que musa é deusa. Deusa ninguém merece. Me lembra uma amiga da minha mãe, uma senhora de mais de 50 anos que se chamava Deusa. A Dona Deusa. O chato é que “deusa” é usada quando falta outro nome. Ninguém mais diz “a atriz...” São todas “deusas”. Com a enorme safra de modelos-atrizes-apresentadoras, chamar alguém de atriz inadvertidamente pode até dar processo. Mas deusa pode, para tristeza da inculta e bela. Como praticamente todas as mulheres que aparecem em revistas de fofocas já se tornaram deusas, tenho a impressão de que vivemos numa Grécia revisitada, inclusive no critério numérico. Se antes as deusas eram poucas, hoje são centenas. Namorou jogador de futebol? É deusa. Posou pelada? É deusa. Fez novela? É deusa. E ainda existem as deusas do hortifruti, que são metade mulheres, metade frutas, e aí há fartura de melancias, jacas e morangos.
Mas nem só de deusas vivem as revistas de fofoca. Muitos homens são classificados de “maridões”. O maridão é uma categoria masculina em alta. Morou junto, namorou, casou, não importa: apareceu de bermudão e havaianas, andando de mãos dadas com alguma famosa de ocasião, é maridão. Existe uma necessidade absurda dessa imprensa por maridos. As mulheres adoram. Esposas são poucas, dada a abundância de musas e deusas, mas os maridos se multiplicam. A palavra “maridão”, em si, denota aquele homem meio indolente que anda sem camisa e acompanha a mulher famosa. É o marido que só é fotografado porque está ao lado da mulher conhecida. O sufixo de grau aumentativo confere uma idéia bondosa, paciente e bonachona ao homem que acompanha a “deusa”. Antes de cair em desgraça, o ex-marido da atriz Suzana Vieira, ela mesma uma musa-deusa, era o “maridão”. Por aí já dá pra imaginar. Deusas e musas não têm marido, têm “maridão”. Homens belos e conhecidos, em geral, são “gatos” e “galãs”. Aliás, “galã” é outra palavra coringa: se fez propaganda de cueca já é considerado galã. Qualquer coisa serve. Inventou a dança da manivela? É “gato”. Participou do programa da Ana Maria Braga? É “galã”. E por aí vai. Já homens quase desconhecidos, mas casados com mulheres conhecidas, são “maridões”.
Nada contra as musas, as deusas e os maridões. Muito pelo contrário. As palavras sinalizam quem é, de fato, absolutamente comum. Chamar alguém de "musa" é conferir à pessoa o certificado de mesmice. “Não há nada de interessante nela, é uma musa”. Se alguma reportagem fala de alguém que não é musa, nem deusa, nem maridão, bom, nesse caso deve ser alguém interessante.
Outro dia parei em uma banca de jornal e comecei a folhear uma revista dessas. Lá estavam as “deusas”, as “musas” e os “maridões”. Sem encontrar termos novos, a mídia repete essas mesmas palavras ad nauseam. Da revista Caras à TV Brasil, lá estão eles. São personagens de nosso cotidiano no salão de beleza, na ante-sala do dentista, do médico e da esteticista. Não nos faltam na hora de enfrentar aqueles minutos chatos até a hora do atendimento.
Por “musa” entenda-se qualquer mulher que tenha feito comercial de cerveja. Tirou foto pelada? É musa. Colocou silicone nos peitos? É musa. Dos gregos resta uma vaga lembrança da idéia original, usada e abusada nestas terras tropicais. Da Sandy à Ana Maria Braga, todas são musas. Uma não-musa deveria ficar feliz: saiu da vala comum. O uso de “musa” está tão difundido que daqui a pouco vão substituir o “senhora” por musa. Senhora, mulher, deputada, senadora, prefeita, cantora, atriz, a lista é longa. Imaginem a revista Carta Capital, ou a Veja, chamando a ministra Dilma Roussef de “musa”. Não está longe de acontecer.
Pior que musa é deusa. Deusa ninguém merece. Me lembra uma amiga da minha mãe, uma senhora de mais de 50 anos que se chamava Deusa. A Dona Deusa. O chato é que “deusa” é usada quando falta outro nome. Ninguém mais diz “a atriz...” São todas “deusas”. Com a enorme safra de modelos-atrizes-apresentadoras, chamar alguém de atriz inadvertidamente pode até dar processo. Mas deusa pode, para tristeza da inculta e bela. Como praticamente todas as mulheres que aparecem em revistas de fofocas já se tornaram deusas, tenho a impressão de que vivemos numa Grécia revisitada, inclusive no critério numérico. Se antes as deusas eram poucas, hoje são centenas. Namorou jogador de futebol? É deusa. Posou pelada? É deusa. Fez novela? É deusa. E ainda existem as deusas do hortifruti, que são metade mulheres, metade frutas, e aí há fartura de melancias, jacas e morangos.
Mas nem só de deusas vivem as revistas de fofoca. Muitos homens são classificados de “maridões”. O maridão é uma categoria masculina em alta. Morou junto, namorou, casou, não importa: apareceu de bermudão e havaianas, andando de mãos dadas com alguma famosa de ocasião, é maridão. Existe uma necessidade absurda dessa imprensa por maridos. As mulheres adoram. Esposas são poucas, dada a abundância de musas e deusas, mas os maridos se multiplicam. A palavra “maridão”, em si, denota aquele homem meio indolente que anda sem camisa e acompanha a mulher famosa. É o marido que só é fotografado porque está ao lado da mulher conhecida. O sufixo de grau aumentativo confere uma idéia bondosa, paciente e bonachona ao homem que acompanha a “deusa”. Antes de cair em desgraça, o ex-marido da atriz Suzana Vieira, ela mesma uma musa-deusa, era o “maridão”. Por aí já dá pra imaginar. Deusas e musas não têm marido, têm “maridão”. Homens belos e conhecidos, em geral, são “gatos” e “galãs”. Aliás, “galã” é outra palavra coringa: se fez propaganda de cueca já é considerado galã. Qualquer coisa serve. Inventou a dança da manivela? É “gato”. Participou do programa da Ana Maria Braga? É “galã”. E por aí vai. Já homens quase desconhecidos, mas casados com mulheres conhecidas, são “maridões”.
Nada contra as musas, as deusas e os maridões. Muito pelo contrário. As palavras sinalizam quem é, de fato, absolutamente comum. Chamar alguém de "musa" é conferir à pessoa o certificado de mesmice. “Não há nada de interessante nela, é uma musa”. Se alguma reportagem fala de alguém que não é musa, nem deusa, nem maridão, bom, nesse caso deve ser alguém interessante.
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