Creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais simpático, de mais viril e de mais perfeito do que o Cristo; e eu digo a mim mesmo, com um amor cioso, que não existe e não pode existir. Mais do que isto: se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se acha n'Ele, prefiro ficar com o Cristo a ficar com a verdade. (Dostoievski)

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13 de abr. de 2008

26. O MITO DO OBJETIVISMO NA FILOSOFIA E NA LINGÜÍSTICA OCIDENTAIS

O sentido é descorporificado

Na visão objetivista, o sentido objetivo não é sentido para alguém. Pode-se dizer que as expressões de uma língua natural têm um sentido objetivo somente se esse sentido for independente de qualquer coisa que os seres humanos possam fazer, inclusive falar ou agir. Isto é, o sentido deve ser descorporificado. Frege, por exemplo, distingue o "sentido" (Sinn), o sentido objetivo de um signo, da "idéia" que surge

das memórias e das impressões sensíveis que tive e dos atos, tanto internos quanto externos, que realizei... A idéia é subjetiva... Sob essa perspectiva, não é necessário ter escrúpulos para falar simplesmente do sentido, uma vez que no caso de uma idéia, deve-se, estritamente falando, acrescentar a quem ela pertence e em que época. (Frege, pp. 59-60).

O "sentido" de Frege é um sentido objetivo e descorporificado. Cada expressão lingüística em uma língua tem um sentido descorporificado associado a ela. Isso é uma reminiscência da metáfora do CANAL, em que "O sentido está ali mesmo, nas palavras".

A tradição fregeana continua até os dias de hoje no trabalho dos discípulos de Richard Montague bem como no de muitos outros. Em nenhum desses trabalhos sobre semântica, o sentido da frase é tomado como dependente de qualquer maneira do modo como um ser humano poderia compreendê-lo. Conforme Montague afirma, "Como Donald Davidson, vejo a construção de uma teoria da verdade - ou melhor, de uma noção mais geral de verdade sob uma interpretação arbitrária - como a meta básica de uma sintaxe e de uma semântica sérias" (1974, p. 188). As palavras importantes aqui são "interpretação arbitrária." Montague assume que as teorias do sentido e da verdade são empreendimentos puramente matemáticos e sua meta era manter uma "interpretação arbitrária", não atingida absolutamente por qualquer coisa que tivesse a ver com seres humanos, particularmente, por problemas de psicologia humana e de compreensão humana. Ele pretendia que seu trabalho fosse aplicável a qualquer tipo de ser no universo e que fosse livre de qualquer limitação imposta por qualquer tipo particular de ser.

Corresponder as palavras do mundo, sem considerar pessoas ou compreensão humana

A tradição objetivista considera a semântica o estudo de como as expressões lingüísticas podem corresponder diretamente ao mundo, sem a intervenção da compreensão humana. Talvez, a formulação mais clara dessa posição seja dada por David Lewis:

Minhas propostas também não se ajustarão às expectativas daqueles que, ao analisar o sentido, voltem-se imediatamente para a psicologia e a sociologia dos usuários da língua: para as intenções, as experiências sensoriais e as idéias mentais, ou para as regras sociais, as convenções e as regularidades. Distingo dois tópicos: primeiro, a descrição das línguas ou gramáticas possíveis como sistemas semânticos abstratos nos quais os símbolos se associam a aspectos do mundo; segundo, a descrição de fatos psicológicos e sociológicos nos quais um desses sistemas semânticos abstratos em particular é utilizado por uma pessoa ou comunidade. Misturar esses dois tópicos só resulta em confusão. (Lewis, 1972, p. 170).

Lewis segue aqui a prática de Montague ao tentar explicar como a linguagem corresponde ao mundo - "como os símbolos são associados a aspectos do mundo" - e isto de uma maneira suficientemente geral e arbitrária para corresponder a qualquer fato psicológico ou sociológico relacionado ao uso e a compreensão da linguagem pelos homens.
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In Lakoff, George & Johnson, Mark. Metáforas da Vida Cotidiana. Mercado das Letras: Campinas (SP), 2002, p. 310-12.

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