Creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais simpático, de mais viril e de mais perfeito do que o Cristo; e eu digo a mim mesmo, com um amor cioso, que não existe e não pode existir. Mais do que isto: se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se acha n'Ele, prefiro ficar com o Cristo a ficar com a verdade. (Dostoievski)

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1 de fev. de 2008

PMs espancam músico até a morte no Maranhão



Repentista foi confundido com assaltante; entidades de direitos humanos protestam contra tortura e racismo
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SÃO LUÍS - Dois policiais militares espancaram até morte, anteontem à noite [22/03/2007], o repentista e compositor Geremias Pereira da Silva, conhecido como Gerô. Ele foi confundido com um assaltante pelos soldados José Expedito Ribeiro Farias e José Waldinar Carvalho, que foram chamados a São Francisco, bairro próximo ao Centro da capital, depois de uma denúncia de assalto a uma senhora, não identificada.
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Os PMs deram voz de prisão ao repentista, que teria reagido e provocado a violenta reação dos policiais. Imobilizado e algemado, ele foi levado ao plantão da polícia civil, que se recusou a recebê-lo devido aos graves ferimentos que apresentava.
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Gerô foi enterrado ontem em clima de protesto promovido por entidades do movimento negro, que classificaram o crime de tortura seguido de morte, movido por questões raciais.
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— Foi um ato brutal de discriminação de uma polícia treinada para bater em negro — protestou Amélia Bandeira, coordenadora do Centro de Cultura Negra do Maranhão.
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Os dois policiais, presos em flagrante, vão responder a inquéritos civil e militar. O delegado geral da Polícia Civil Jefferson Portela disse que somente após o inquérito será decidido se serão enquadrados em crime de homicídio qualificado ou de tortura seguida de morte.
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O delegado de Costumes, Francisco Castelo Branco, que chegava à delegacia, presenciou quando os policiais tentavam, à base de estocadas de cassetetes, colocar Gerô dentro de um porta-mala do carro da PM: — Vi e fiquei impressionado.
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Pedi que parassem, mas não fui atendido. O rapaz estava desacordado, parecia morto, e mesmo assim continuava a ser espancado pelos policiais. Ele estava algemado, com as mãos para trás. Foi quando gritei e chegou uma viatura da Policia Civil e o levamos para o hospital.
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Gerô já chegou ao hospital sem vida. O laudo do IML constatou que ele teve quatro costelas quebradas, os rins dilacerados, e vários hematomas na cabeça e braços, inclusive com as marcas das algemas. O secretário de Direitos Humanos, Sálvio Dino, disse que foi tortura: — Todas as circunstâncias levam a crer que se trata efetivamente de um caso de tortura, de um crime hediondo, que precisa ser punido severamente.
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A esposa de Geremias, Marilene Silva, de 38 anos, em prantos só pedia justiça.— Foi uma maldade que fizeram com ele, ele não merecia morrer desse jeito.
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O governador Jackson Lago, que esteve no velório do artista, afirmou que não vai tolerar a impunidade: — Antes, crimes iguais a este eram abafados; agora é diferente.
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Se comete crime, o policial é preso, julgado e expulso da corporação e nós vamos limpando e melhorando o sistema de segurança do estado.
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Reportagem de Raimundo Garrone publicada no O Globo Online, O País em 24.03.2007
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Artista negro maranhense é cruelmente assassinado por policiais
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Na tarde da última quinta-feira, 22 de março, o compositor e repentista Geremias Pereira da Silva, mais conhecido como Gero, foi espancado até a morte pelos policiais militares José Expedito Ribeiro Farias e José Waldimar Carvalho, do 9º Batalhão da Polícia Militar. Os dois PMs foram presos em flagrante e estão detidos no Plantão Central da RFFSA, mas há indícios que existem outros envolvidos por negligência e por tentativa de proteger os assassinos.
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Gerô foi abordado por volta das 13h no terminal de ônibus Integração, na Praia Grande. A entrada no hospital público Djalma Marques, conhecido como “Socorrão I”, entretanto, só foi registrada às 16h30. Nestas três horas e meia, Gerô foi vítima da brutalidade dos dois policiais e da omissão de outros que assistiram às cenas de violência. O pretexto para o crime foi que Gerô teria sido apontado por uma senhora – que até o momento não foi identificada – como possível assaltante.
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Crueldade deliberada
O Jornal Pequeno, órgão da imprensa local que cobriu o caso, informou que, diante do grave estado de Gerô, já quase morto, os policiais o levaram até o Plantão Central, cujo delegado não quis receber o cantor e sequer tomou providências contra a brutalidade que presenciara. Os dois PMs foram, então, ao Primeiro Distrito e relataram ao delegado Eduardo Jansen que Gerô era um doente mental que deveria ser encaminhado ao hospital. O delegado acreditou na versão dos criminosos e concedeu o encaminhamento mesmo sem ver a vítima.
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No Primeiro distrito, o delegado Castelo Branco, da Delegacia de Costumes e Diversões Públicas, assistiu ao espancamento. Os policiais tentaram colocar Gerô no porta-malas da viatura. Ao não conseguirem, deram seqüência ao espancamento, com Gerô já desacordado. Castelo Branco, que observava a cena, diz que “pediu” que eles parassem e não foi atendido. Nenhuma atitude de fato foi tomada para que cessasse a agressão.
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Já morto, uma viatura levou Gerô ao hospital numa viatura. Os policiais envolvidos – nesse caso, todos e não apenas os dois que golpearam o cantor – ainda tentaram atenuar ou abafar o crime, dizendo que a vítima havia “passado mal”.
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No laudo preliminar do IML, consta quatro costelas fraturadas e hemorragia interna num rim. No corpo, Gerô carregava múltiplas escoriações, os punhos feridos pelas algemas – ele esteve o tempo todo algemado, sem nenhuma possibilidade de defesa – e a marca impossível de apagar do racismo e da repressão policial.
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Indignação e protesto
O crime aconteceu um dia depois do Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, em memória do Massacre de Shaperville, em 1960, quando 69 sul-africanos foram mortos. No Maranhão, a barbaridade da PM chocou a população e causou a revolta de militantes do movimento negro e da esquerda do estado. Está marcado para às 15h30 desta sexta-feira, 23, um ato de protesto na praça Deodoro, no centro de São Luís.
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Gerô era negro, artista, tinha 46 anos e morava na vila Cidade Operária, na capital do Maranhão. Atualmente, ele respondia a um processo movido pelo presidente da Fundação Municipal de Cultura, o arquiteto Adirson Veloso. A razão do processo foi um cordel composto por Gerô, em que ele denunciava Veloso. Segundo informou o site Badauê, ele teria sido condenado a prestar serviços de faxineiro.
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O repentista tinha atuação política e era muito conhecido no meio artístico da cidade. Ao velório, compareceram diversos artistas e militantes de várias organizações, indignados com o ato explicitamente racista.
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Um crime como esse deveria ter repercussão nacional, chocar e levantar revolta na população brasileira. Gerô, entretanto, não era morador da Zona Sul carioca, não era branco.
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Infelizmente, esse não é um caso isolado: acontece todos os dias, às centenas, no pobre Nordeste ou nos morros cariocas; nas favelas paulistas ou nos subúrbios do sul. As vítimas, em sua maioria, são sempre as mesmas: pobres, negros, oprimidos, tão distantes das campanhas de combate à violência encampadas pelas ONGs e pela mídia.
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A morte de Gerô traz uma reflexão: estamos, infelizmente, muito distantes da igualdade racial. Ela só virá com o fim do capitalismo, quando os negros deixarão de ser mão-de-obra barata superexplorada e não mais servirão apenas para engordar os lucros dos empresários.
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Reportagem de Luciana Candido, de 23/03/2007.
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NOTA: Os assassinos de Gerô estão livres, vivendo suas vidas tranqüilamente. Punição? Expulsão da PM. É isso que vale a vida de um ser humano. É essa a política de "segurança cidadã" do atual Governo do Estado do Maranhão.

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