Creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais simpático, de mais viril e de mais perfeito do que o Cristo; e eu digo a mim mesmo, com um amor cioso, que não existe e não pode existir. Mais do que isto: se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se acha n'Ele, prefiro ficar com o Cristo a ficar com a verdade. (Dostoievski)

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15 de nov. de 2009

o mito de prosérpina







O rapto de Prosérpina, de Luca Giordano
Veja mais aqui.


Depois de Júpiter e seus irmãos terem derrotado os titãs e os expulsado para o Tártaro, um novo inimigo ergueu-se contra os deuses. Eram os gigantes Tífon, Briareu, En­celado e outros. Alguns deles tinham cem braços, outros respiravam fogo. Afinal, foram vencidos e enterrados vi­vos no Monte Etna, onde alguns continuam a lutar para se libertar, sacudindo toda a ilha com os terremotos. Sua respiração sai através da montanha e é o que os homens chamam de erupção vulcânica.
A queda desses monstros abalou a terra, o que alarmou Plutão, receoso de que seu reino pudesse ser aberto à luz do sol. Presa dessa apreensão, ele entrou em seu carro, puxado por cavalos negros, e viajou pela terra para verificar a extensão dos danos. Enquanto se achava empenhado nesse mister, Vênus, que estava sentada no Monte Erix, brincando com seu filho Cupido, olhou-o e disse:
- Meu filho, toma tuas setas, com que vences todos, mesmo Jove, e crava uma delas no peito daquele sombrio monarca, que governa o reino do Tártaro. Por que deverá ele sozinho escapar? Aproveita a oportunidade de ampliar 0 teu e 0 meu domínio. Não vês que mesmo no céu alguns desprezam nosso poder? Minerva, a sábia, e Diana, a caçadora, desafiam-nos; e ali esta a filha de Ceres, que ameaça seguir seu exemplo. Agora, se tens qualquer consideração por teus próprios interesses e pelos meus, junta aquelas duas pessoas em uma só.
O menino abriu a aljava e escolheu a mais aguda e fiel seta; depois, firmando 0 arco no joelho, distendeu a corda e desfechou a seta de ponta aguda bem no coração de Plutão.
Há, no Vale de Ena, um lago escondido no bosque, que o protege contra os ardentes raios do sol; o ter­reno úmido é coberto de flores, e a Primavera reina ali perpetuamente. Prosérpina lá se encontrava, brincan­do com suas companheiras, colhendo lírios e violetas, e enchendo com as flores seu cesto e seu avental, quando Plutão a viu, apaixonou-se por ela e raptou-a. Ela gritou, pedindo ajuda à mãe e às companheiras; e quando, apa­vorada, largou os cantos do avental e deixou cair as flores, sentiu, infantilmente, sua perda como um acréscimo ao seu sofrimento. O raptor excitou os cavalos, chamando-os cada um por seu nome e soltando sobre suas cabeças e pescoços as rédeas cor de ferro. Quando chegou ao Rio Cíano, e este se opôs à sua passagem, Plutão feriu a mar­gem do rio com seu tridente, a terra abriu-se e deu-lhe passagem para o Tártaro.
Ceres procurou a filha por todo o mundo. Aurora, dos louros cabelos, ao sair pela manhã, e Hespéria, ao trazer as estrelas ao anoitecer, ainda a encontraram ocupada na procura. Tudo foi em vão, porém. Afinal, cansada e triste, ela se sentou numa pedra e ali continuou sentada, duran­te nove dias e nove noites, ao ar livre, à luz do sol e ao luar, e sob a chuva. Era onde ora se ergue a cidade de Elêusis, então morada de um velho chamado Celeus. Ele estava no campo, colhendo bolotas e amoras silvestres e grave­tos para alimentar o fogo. Sua filhinha conduzia para casa duas cabras e, ao aproximar-se da deusa, que aparecia sob o disfarce de uma velha, disse-lhe:
- Mãe (e o nome foi suave aos ouvidos de Ceres), por que estás sentada aí nessa rocha?
O velho tambem parou, embora sua carga fosse pesa­da, e convidou Ceres a entrar em sua cabana. Ela recusou e ele insistiu.
- Vai em paz - respondeu a deusa - e sê feliz em companhia de tua filha. Eu perdi a minha.
Ao falar, lágrimas - ou algo como lágrimas, pois os deuses não choram - escorreram-lhe pelo peito. O compassivo velho e a criança choraram com ela. Afinal, disse Celeus:
- Vem conosco e não desprezes nosso teto humilde. Talvez tua filha te seja devolvida sã e salva.
- Vamos - disse Ceres -, não posso resistir a tal apelo! Levantou-se da pedra e seguiu com os dois. Enquanto caminhavam, Celeus contou que seu único filho, um menino, estava doente, febril e sem sono. Ceres parou e colheu algumas papoulas. Ao entrarem na cabana, encontraram todos muito tristes, pois o estado do menino parecia desesperador. Metanira, sua mãe, recebeu aten­ciosamente a visitante, e a deusa, debruçando-se, beijou os lábios da criança enferma. Instantaneamente, a pali­dez abandonou-lhe o rosto e o vigor da saúde voltou-lhe ao corpo. Toda a família ficou deleitada - isto é, o pai, a mãe e a menina, pois não tinham criados. Puseram a mesa, e serviram coalhada e creme, maçãs e mel. Enquanto comiam, Ceres misturou caldo de papoula no leite que o menino estava tomando. Quando veio a noite e tudo estava quieto, ela se levantou e, pegando o menino adormecido, passou-lhe as mãos pelos lábios e murmurou três vezes palavras de encantamento, depois foi colocá-lo nas cinzas. A mãe do menino, que estava observando o que a hóspede fazia, levantou-se, com um grito, e tirou a criança do fogo. Então Ceres assumiu sua própria forma e um divino esplendor espalhou-se em tomo. Diante do assombro de todos, disse:
- Mãe, foste cruel no amor ao teu filho. Eu ia torná-lo imortal, mas frustraste meus esforços. Não obstante, ele será grande e útil. Ensinará aos homens o uso do ara­do e as recompensas que o trabalho pode obter do solo cultivado.
Assim dizendo, envolveu-se numa nuvem e, tomando seu carro, afastou-se.
Ceres continuou a procurar a filha, passando de ter­ra em terra, e atravessando mares e rios, ate voltar à Sici­lia, de onde partira, e ficou de pé à margem do Rio Cíano, onde Plutão abrira uma passagem para os seus domínios. A ninfa do rio teria contado à deusa tudo que testemunha­ra, se não fosse o medo de Plutão; assim, apenas se aven­turou a pegar a guirlanda que Prosérpina deixara cair em sua fuga e fazê-la descer pela correnteza do rio, até junto da deusa. Vendo-a, Ceres não teve mais dúvida sobre a perda da filha, mas ainda não conhecia a causa e lançou a culpa sobre a terra inocente.
- Ingrato solo, que tornei fértil e cobri de ervas e grãos nutritivos, não mais gozarás de meus favores! ­- exclamou.
Então, o gado morreu, o arado quebrou-se no sulco, as sementes não germinaram. Houve sol e chuva em de­masia. As aves roubaram as sementes. Somente medravam os cardos e sarças. Ao ver isto, a fonte Aretusa inter­cedeu pela terra:
- Não culpes a terra, deusa! - exclamou. - Ela se abriu de má vontade para dar passagem à tua filha. Posso contar-te qual foi o seu destino, pois a vi. Esta não é mi­nha terra natal; venho de Elis. Era uma ninfa dos bosques e comprazia-me na caça. Exaltavam minha beleza, mas eu não cuidava disso, e antes me vangloriava de minhas proezas venatórias. Certo dia, estava voltando do bosque, aquecida pelo exercício, quando vi um regato que corria sem ruído, tão claro que podiam contar-se as pedrinhas do fundo. Os salgueiros o sombreavam e as margens, co­bertas de relva, desciam ate a água, numa rampa suave. Aproximei-me, toquei a água com o pé. Entrei até ficar com água pelo joelho e, não contente com isto, deixei mi­nhas vestes nos salgueiros e entrei no rio. Enquanto lá est­ava, ouvi um murmúrio indistinto, vindo do fundo do rio, e apressei-me em fugir para a margem mais próxima.
- Por que foges, Aretusa? - disse a voz. - Sou Al­feu, o deus deste rio.
Fugi e ele me perseguiu. Não era mais rápido do que eu, mas era mais forte, e alcançou-me, quando minhas forças fraquejaram. Afinal, exausta, gritei pedindo a ajuda de Diana:
- Ajuda-me, deusa! Ajuda tua devota!
A deusa ouviu-me e envolveu-me logo em espessa nuvem. 0 rio-deus procurou-me, ora aqui, ora ali, e duas vezes aproximou-se de mim, mas não conseguiu encontrar-me.
- Aretusa! Aretusa! - gritava.
Oh, como eu tremia! Como o cordeirinho, que ouve o lobo uivando fora do redil. Um suor frio cobriu-me, meus cabelos caíram como correntes de água e onde estavam meus pés formou-se uma lagoa. Em resumo: em menos tempo do que leva para contar, tornei-me uma fonte. Mas ainda sob essa forma, Alfeu reconheceu-me e tentou misturar sua corrente com a minha. Diana abriu a solo e eu, tentando escapar à perseguição, mergulhei na caverna e, através das entranhas da terra, cheguei aqui à Sicília. Ao passar pelas camadas inferiores da terra, vi sua Prosérpina. Ela estava triste, mas não refletia susto na fisionomia. Seu aspecto era o de uma rainha: a rainha do Érebo; a po­derosa esposa do monarca do reino dos mortos.
Ao ouvir isto, Ceres ficou perplexa durante um mo­mento, depois virou o seu carro para o céu e correu a apresentar-se diante do trono de Jove. Contou a histó­ria de sua aflição e implorou a Júpiter que intercedesse, para conseguir a restituição de sua filha. Júpiter consen­tiu, com uma condição: a de que Prosérpina não tivesse tomado qualquer alimento durante sua permanência no mundo inferior; de outro modo, as Parcas proibiam a sua libertação. E, assim, Mercúrio foi mandado, acompanha­do de Primavera, para pedir Prosérpina a Plutão. O ardilo­so monarca consentiu, mas, infelizmente, a donzela acei­tara uma romã que Plutão lhe oferecera e sugara o doce suco de algumas sementes. Isso foi suficiente para impe­dir sua libertação completa. Fez-se um acordo, contudo, pelo qual Prosérpina passaria metade do tempo com sua mãe e o resto com seu marido Plutão.
Ceres deu-se por satisfeita com esse arranjo e resti­tuiu à terra seus favores. Lembrou-se, então, de Celeus e de sua família, e da promessa feita ao menino Triptólemo. Quando o menino cresceu, ensinou-lhe o uso do arado e como semear. Levou-o em seu carro, puxado por dragões alados, a todos os países da terra, aquinhoando a humanidade com cereais valiosos e com o conhecimento da agricultura. Depois de seu regresso, Celeus construiu em Elêusis um magnífico templo dedicado a Ceres e es­tabeleceu o culto da deusa, sob o nome de mistérios de Elêusis, que, no esplendor e solenidade de sua observância, ultrapassavam todas as demais celebrações religiosas entre os gregos.
Não pode haver dúvida de que esta história de Ceres e Prosérpina é uma alegoria. Prosérpina representa a semente do trigo, que, quando enterrada no chão, ali fica escondida, isto é, levada pelo deus do mundo subterrâneo. Depois reaparece, isto é, Prosérpina é restituída à sua mãe. A primavera a faz voltar à luz do dia. 



***







FONTE: O livro de ouro da mitologia, de Thomas Bulfinch.


***


NOTA: Eu gosto muito desse mito grego! É um dos meus preferidos, sobretudo pela resolução e pela ilustração. A metáfora da semente que cai na terra e precisa morrer para gerar vida foi usada por Jesus, como parábola, muito tempo depois dos registros da mitologia grega, para ilustrar a morte do homem natural e o nascimento do homem espiritual. Muitos mitos gregos encontram paralelo na Bíblia, outro exemplo de que gosto é o de Hércules e seu paralelo com Sansão. Bom, já é outra história. Voltando a Prosérpina: sempre que estou triste tento pensar nisso: a morte momentânea e as angústias presentes redundarão em coisa melhor no futuro; as lágrimas semeadas trarão boa colheita; ao inverno segue-se a primavera; a semente que cai na terra e morre, gera vida.

4 comentários:

Chato disse...

Maya, cê tá realmente mal,hein? É a primeira vez q vejo tantos erros de ortografia e acentuação no seu blog!

Maya Felix disse...

Chato,

Obrigada pelas observações! Era tudo o que eu precisava ouvir hoje!

Bom, eu escaneei o texto diretamente para o word, e aconteceu isso. No dia em que você digitalizar o texto, o programa nem sempre vai reconhecer todos os caracteres, o que vai gerar esse problema.

De qualquer modo, vou revisar com mais atenção.

Maya

Anônimo disse...

Maya estou a pensar fazer um trabalho sobre este assunto mas exitem certas coisas que ainda não percebo... Pode explicar-me?

Anônimo disse...

Olá Maya, eu queria fazer um trabalho sobre este assunto mas ainda não percebi algumas coisinhas... Pode explicar-me?

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