Só os tolos acreditam que o relacionamento com
Deus é sem graça. Alguns imaginam o céu como um lugar tedioso. Não sei como é o
céu. Mas desde que conheci o amor de Deus, por meio de Jesus, vivo dias incríveis.
Nunca, nem antes nem depois, estive em um relacionamento tão intenso e vivo.
Quando me converti, tinha 21 anos, e meu sentimento era de perplexidade diante
da novidade de sentir em mim uma força viva, ainda que invisível. Dessa força vinha paz, entusiasmo, alegria, amor. A cada dia,
Deus se mostrava de modo diferente – e, no entanto, pacificamente constante.
Meus sentimentos eram também confusos, tinha medo de abrir mão de prazeres,
rotinas, hábitos nos quais não via mal, ainda que soubesse serem errados. Tinha
medo de deixar de ser “eu mesma”, de me tornar triste, um ser de pensamento
embotado e cinza. Via cristãos de todos os matizes: conformados, cínicos,
aguerridos, amorosos, misericordiosos, julgadores, acusadores... Não sabia
direito em que padrão de comportamento eu me encaixaria. Não achava que as
pessoas da igreja eram melhores que muitas “do mundo” que eu já havia conhecido.
A única coisa que eu sabia é que esse Deus era bom, era muito bom, e com Ele eu
me sentia livre para chorar, para falar, para pedir, para reclamar. Pela
primeira vez na minha vida, eu tinha alguém em quem eu podia confiar
completamente. Eu sabia que não era digna de nada, e ainda assim eu pedia. O
mais interessante é que Ele ouvia, e assim eu via, com frequência, pedidos
feitos em oração se tornarem realidade. Era incrível. Lia a Bíblia e aquelas
afirmações, ideias e conceitos pareciam saltar do papel para a minha vida.
Nunca achei a leitura da Bíblia chata. Achava desafiador entender textos mais
herméticos. Achava incrível que aquelas palavras, escritas há tantos séculos, pudessem
se tornar verdade na minha vida. Eu, uma entre mais de seis bilhões.
Mas as coisas mudavam. O ano seguinte à minha
conversão e ao meu batismo foi mais intenso. Comecei a ver mudanças em minhas escolhas,
concepções, certezas. Comecei a entender os mil quinhentos e doze porquês antes
inexplicáveis em relação à prática religiosa. A vida mudava, eu mudava, meu
relacionamento com Deus mudava: tornava-se mais intenso, mais estreito. Anos
depois de minha conversão, olhava tudo o que Ele havia feito em mim e não
acreditava. Era muita coisa. Então olhava para mim e via o quanto havia a ser
feito. E quanto mais Deus fazia, mais eu via o quanto precisava que Ele
fizesse, sempre, coisas novas em mim. Percebi então que a vida com Deus
assemelha-se mais a um rio que a uma lagoa. A relação com Deus é dinâmica, é
cheia de movimento. Nunca é tediosa. Nunca é monótona. A Bíblia que eu relia
adquiria sentidos diferentes. Capítulos que sabia praticamente de cor
subitamente ganhavam uma dimensão completamente inusitada. Sempre foi incrível.
Deus acompanhou fases diferentes, idades
diferentes, humores, estados de alma e de conhecimento vários. Como um
construtor paciente, compreendeu fraquezas, falhas, erros. Consertou muita
coisa, e só não fez tudo de uma vez, quando o conheci, porque eu teria tido um
ataque de nervos instantâneo. Deus sabe o que posso suportar, e age respeitando
meu ritmo e meu passo. Achava que Deus um dia ia perder a paciência comigo,
cansar-se de me perdoar, pedir “um tempo” no nosso relacionamento... Achava que
Deus ia me deixar, que Ele ia me abandonar ou me rejeitar em algum momento.
Para minha grata e completa surpresa, Deus sempre estava comigo, bem perto, ao lado, em volta, aqui. Isso era absurdamente
maravilhoso, para mim. Deus era diferente de todo e qualquer ser humano que eu
já havia conhecido. A cada constatação de que Ele estava lá, estava comigo,
enfrentando todas as dificuldades do meu lado, eu ficava mais e mais grata, eu
o amava com mais intensidade. Não só Ele me moldava como essa nova forma que eu
adquiria me tornava capaz de amá-lo mais e mais, apaixonadamente.
Há 20 anos tenho vivido esse amor com Deus.
Tenho descoberto mais a seu respeito, e tenho aprendido que Ele é de fato
perfeito. Não há defeitos, não há oscilações, não há medo. Deus é nobre por
inteiro. Ele se tornou, para mim, mais real que minha mão, que os meus pés.
Mais real que meu nariz. Não preciso fingir ser quem eu não sou para me mostrar
piedosa, caridosa ou melhor do que de fato sou. Deus me conhece. Sabe como sou.
Sabe exatamente o que penso e sinto. E não me aponta o dedo na hora do erro.
Instrui, acolhe, ensina. Perdoa, edifica, trata. Cura. Ama. Jamais
abandona, jamais desiste, jamais esmorece. É apaixonado, cuidadoso, cheio de
zelo. E imaginem, faz só 20 anos que vivo essa história de amor. Fico pensando
nos próximos 20 anos. Na eternidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário