Mais uma vez a tragédia ressuscita as teologias do beneplácito de Deus. Desta vez é o Haiti: um terrível terremoto com o seu núcleo em Porto Príncipe - cidade muito abaixo da linha da pobreza, assim como o resto do país - colocou abaixo milhares de prédios, ceifando a vida de outras milhares de pessoas, soterradas sob os escombros. Corpos esparramados pelas ruas se decompondo, ou sendo enterrados em valas comuns sem qualquer identificação. A revista Veja desta semana reproduz essa cena dantesca, onde adultos e crianças mortos foram retratados em sua terrível desolação. E eis que os teólogos de plantão novamente começam a excluir Deus da tragédia, não ousando imaginar uma divindade irada (Jonathan Edwards pensava o contrário).
O ápice de tudo aconteceu com um artigo do blogueiro Julio Severo, ousando imaginar que a ira de Deus se abatera sobre aquele povo miserável e sofrido. Muitas vozes se levantaram contra o articulista, inclusive algumas extremamente agressivas, reproduzindo xingamentos do tipo canalha - o que não deixa de ser um excesso de quem se coloca contra o extremo supostamente cometido pelo criticado em seu artigo sob 'fogo' (fogo amigo???).
É até possível entender a indignação dos críticos, uma vez que o artigo de fato é bastante cáustico, mas não anti-bíblico, pois a gênese do pensamento condiz exatamente com a Palavra. Estranho é que os apologetas críticos, via de seus festejados blogs, no afã de desconstruírem o artigo, como também o pensamento do seu autor (disputa?), fazem-no dubiamente, uma vez que dão a impressão que Deus não se fazia presente naquela tragédia como autor, mas apenas como mero expectador. Estranho porque alguns desses críticos costumam se posicionar quase sempre de maneira equilibrada, biblicamente falando.
Deus não se ausenta de qualquer acontecimento no universo. A sua criação não se guia aleatoriamente, como um navio sem leme à deriva no oceano. Ele é a própria vontade que existe por trás de tudo, de cada evento, por mais pueril ou catastrófico que seja. Deus estava nos campos de concentração nazistas como vontade originadora do holocausto para fazer cumprir os Seus desígnios, os quais não temos conhecimento. Ele estava por trás do Genocídio em Serra Leoa, quando os hutus trucidaram os tutsis, etnia rival - e milhares de corpos boiavam pelos rios daquele país, tornando a sua água pútrida. Porém, Ele também estava livrando tantos outros que se salvaram. Deus faz viver e faz cessar a vida - usando de qualquer meio que Lhe aprouver, inclusive os cataclismos. Tudo para que se cumpram os Seus desígnios, em detrimento da vontade e dos 'achismos' humanos:
"Vede, agora, que eu sou, eu somente, e mais nenhum deus além de mim; eu mato e eu faço viver; eu firo e eu saro; e não há quem possa livrar alguém da minha mão" (Dt 32:39).
"Eis que o Senhor esvazia a terra e a desola, transtorna a sua superfície e dispersa os seus moradores." (Isa 24:1).
"E todos os moradores da terra são reputados em nada; e segundo a sua vontade ele opera no exército do céu e entre os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?" (Dn 4:35)
Se de um lado há o erro de se fazer julgamentos e dar vereditos afirmando ser a tragédia "castigo de Deus" pela incredulidade daquele povo (haitiano), uma vez que não nos cabe emitir tais sentenças, de outro, erram aqueles que criticam esse posicionamento, colocando-se na vertente oposta, à moda "gondiniana", afirmando um deus todo amor, todo misericórdia, todo relacional. Um deus essencialmente 'bonzinho'. Quando ousam desvendar Deus, que o façam pelo menos biblicamente.
Deus escolheu um povo através de Abraão, não por seus méritos, mas pela sua santa vontade. Israel foi formada e amada pelo Criador, e não obstante, por vezes sem conta esse mesmo Deus de bondade castigou a "sua Israel":
"Por isso, como a língua de fogo consome a palha, e o restolho se desfaz pela chama, assim será a sua raiz como podridão, e a sua flor se esvaecerá como pó; porquanto rejeitaram a lei do SENHOR dos Exércitos, e desprezaram a palavra do Santo de Israel". Por isso se acendeu a ira do SENHOR contra o seu povo, e estendeu a sua mão contra ele, e o feriu, de modo que as montanhas tremeram, e os seus cadáveres se fizeram como lixo no meio das ruas; com tudo isto não tornou atrás a sua ira, mas a sua mão ainda está estendida." (Isaías 5:24-25)
Eis que esse mesmo Deus diz em Sua Palavra:
"Eu repreendo e castigo a todos quanto amo: sê pois zeloso e arrepende-te." (Ap 3:19)
Esse Deus bondoso muitas vezes se transmuda em Deus da ira. Aliás, trazemos conosco a sua ira e somente não somos consumidos pela sua misericórdia. Porém, tendo Deus destruído Israel, povo eleito, em razão da sua deslealdade e idolatria, porque não pode igualmente canalizar a sua ira para os Estados Unidos (New Orleans - New York), para o Brasil (enchentes, seca no nordeste), ou para o Haiti? Porventura os deserdados do nordeste brasileiro também não são pobres?
Sim, concordo que o momento não é para teologizar ou emitir julgamentos divinos - mesmo porque não nos cabe fazê-lo. Tampouco se admitem simplismos como os orquestrados pelos blogs "rivais" ao Júlio Severo. É bom lembrarmos que não estamos em uma "jihad" evangélica, ou em uma cruzada santa. Baixem a bola os apologetas de plantão!
Conclamo a todos a que oremos para os sobreviventes da tragédia no Haiti, e que Deus execute os Seus santos desígnios. E irá fazê-lo, queiramos nós ou não.
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FONTE: Blog A verdade liberta, o erro condena.
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No blog citado acima escrevi um comentário ao artigo e ao conflito gerado a partir da publicação do texto de Julio Severo, e reproduzo aqui meu texto:
Prezado Ricardo,
Obrigada por sua visita e postagem em meu blog. Vejo a mão de Deus em tudo o que acontece. Vejo sua misericórdia nessa catástrofe do Haiti. Vejo seus desígnios altíssimos, de um Deus soberano que, segundo orou Ana, "é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela." (I Sm 2:6). Ana, em sua oração, ainda diz, no verso 8: "do Senhor são os alicerces da terra, e assentou sobre eles o mundo." Como podemos deixar Deus de fora da História, nas catástrofes? Será que ele só aparece na riqueza, no conforto, na saúde? É um Deus pela metade? Estaria Ele de acordo com a Teologia da Prosperidade, pronto a conceder ao homem somente coisas materialmente boas, jamais o castigo e a repreensão que visam a transformação espiritual e a salvação? No fundo, esses teólogos muito abertos pensam exatamente como os da prosperidade: Deus só age para coisas boas, agradáveis, palatáveis... O que acontece de ruim não é responsabilidade dele. Os do teísmo aberto creem que Deus não pode controlar todas as coisas, e os da prosperidade dizem que ele não seria cruel a ponto de enviar castigo sobre a Terra; no fundo, tanto uns quanto outros creem no mesmo Deus limitado e plano, como os personagens do Romantismo, sem muita profundidade e sem planos inescrutáveis aos olhos humanos. Deus não sente raiva, Deus não age, Deus não vê. Fazem Deus à sua imagem e semelhança,incapaz e pusilânime diante do que Ele abomina, bonachão e sem nenhuma ação diante do mal (o único mal que Deus castiga e enxerga, no entendimento do Danilo Fernandes, é a ação dos 'vendilhões do templo').
Voltando a esse senhor: poucas vezes encontrei alguém com o caráter tão corroído. Recebi um e-mail no qual o autor me chamou a atenção para o fato de que Danilo Fernandes critica bastante as igrejas por sua falta de assistência e atenção à tragédia do Haiti mas, ele mesmo, não move uma palha. Eu me dei conta de que é verdade, Danilo Fernandes não se propôs ser voluntário no Haiti. Cadê ele? Ora, ele está sentado em sua cadeirinha, fazendo o que faz de melhor: escarnecendo, criticando, acusando, zombando, distorcendo, tripudiando, caluniando, difamando. Ele só não olha para si mesmo. Não olha para o fato de que ele não está ajudando o Haiti tanto quanto aqueles que ele critica, mas enche o peito e aponta o dedo cheio de 'autoridade' para acusar a 'igreja' de não fazer nada.
O que me dá ânimo é perceber que muitos já começam a enxergar quem de fato ele é, e a máscara já está caindo. É claro que nesse episódio eu prontamente apoiei Julio Severo, como tantos outros cristãos.
O mais engraçado: Danilo critica as Assembleias de Deus, pois o pentecostalismo para ele é aberração e engano, e muitos pastores das AD estão lá, em seus blogs, divulgando o Genizah. Masoquismo, hipocrisia ou simples ignorância?
Um abraço,
Maya